quinta-feira, 15 de setembro de 2016

incidente no gulliver. manchete à sua altura ?

 o pretenso bardo da democracia não passa de um reverso


a honra, é objetivamente, a opinião dos outros acerca do nosso valor e, subjetivamente, o nosso medo desta opinião. schopenhauer.

como se suja o homem que lava a honra em sangue. mário da silva brito.

as pessoas decentes não precisam de honra. solfocleto.


sexta-feira fatídica, marcada por uma tentativa de assassinato.
sábado malévolo, marcado pela consumação de outro. arma ? manchete de a união: incidente leva ronaldo a se licenciar do cargo.

de quantas maneiras se pode mesmo matar um homem ? a frase é de brecht, com quem aprendi também o conceito de verfrendung (distanciamento) que fora do jogo teatral acompanha-me no jogo da vida e da morte. e a ela recorro, quase à exaustão, para cindir o óbvio e o obtuso, sem pistola, apenas com as armas do intelecto, ofício praticado em tom blasé.

sob prisma sociológico-semiológico, manchete e gulliver, permitem interpretação marxista-barthesiana- mitologias- sobre modos dialéticos descritos fabulosamente por swift, nas sagas do viajante ante as grandezas e pequenezas humanas, nem sempre correspondentes a altura, tese e antítese, ânsia infernal de síntese cuja sede embriaga. não vou derivar a tanto. salve-se quem puder, porque hoje, o alvo é outro.

pois bem. de dar tiro- e levar – ninguém está livre. ó tempo! ó costumes! por isso o franco atirador não vai acionar sua metralhadora giratória sobre o fato dissecado – e de forma bem plural – por evandro nóbrega, carlos roberto de oliveira e arthur gadelha. mas o estrondo da manchete ainda ribomba nos ouvidos de quem tem vergonha na cara e mínimo critério profissional que não esteja comprometido com o couvert do gulliver. tentativa de assassinato é tentativa de assassinato. não importam os motivos. e quando um jornal transforma isso em incidente (sic) “eufemismo hiperbolizado”,  alicerçado por editorial marrom que ocupa 2/3 de página em defesa da honra, não dá pra calar. porque calar é compactuar com este tipo de achatamento do caráter e da dignidade esculpido por quem tanto defende a honra. aliás, a defesa da honra é tiro pela culatra, recurso torpe, sempre ligado ao mais traiçoeiros, hediondos e bárbaros crimes. nenhum foca esclarecido o invocaria, portanto. mas ronaldo, sempre teve uma horda de assessores e cavaleiros errantes, que sob o prisma de gulliver, são gigantes na gula e anões na inteligência e no caráter. isso até na hora de concatenar a estratégia do megarensiun lachrymae, pós-concebida para abafar acenos do atirador insano ?

por estas e outras é imperativo acabar com o foro privilegiado e não só 


da manchete ao editorial, passando pelos artigos de djacy andrade e nelson coelho, tivemos uma saraivada de estampidos que agridem o mais parco intelecto – como se já não bastassem tantos motivos para atrofiá-lo – e a mais tosca sensibilidade, diante do sarrabulho – a horda gosta de mesas fartas – cujo tempero é típico de escribas deluzidos. em nome da honra pessoal escreveu-se, à soldo barato, a lição do cala boca, para que fatos iguais não se repitam (ameaça do editorial), repetido no artigo de djacy andrade, que ainda corrobora a praticidade de bala para lavar a honra da família(que estes senhores devem ter muito frágeis a ponto de precisar de revólver para defendê-la). aliás, cássio já é um meninão bem crescidinho. ele mesmo deve defender-se, resolver-se, pois já tem carteira de habilitação para isso, menos para dar tiros, por favor, que já basta um atirador desastrado na família.

este não é o raciocínio de nelson coelho que esgarçou sub-conscientes, pois pra sí “ o chefe de família é o líder, o comandante, o ídolo, e o espelho, cujos reflexos acompanham a vida dos filhos pela existência inteira”.

pessoalmente, lamento pelos filhos de quem fez/permitiu tal manchete, tal editorial, tais tiros, e que destinos mais benfazejos venham a quebrar tais espelhos provocando a libertação biológica de tais imagens.

completando o trágico fim-de-semana – o que os teus fazem de tí pequenina – a coluna informe, no correio, em gorjeta (não se pode chamar aquilo de nota) aceita por espírito de corpo camaleão, registrava que o superintendente nonato guedes e o editor fernando moura viveram na noite de sexta uma das missões mais difícéis de cada um. este é o discurso típico de homens acovardados que trocam a consciência profissional pelo valor das prestações que não podem pagar, apegando as suas bundas a cargos mantidos para além da força da gravidade. quem tem realmente consciência das implicações do acontecido, limpa as gavetas, publica o fato e vai embora. se voltar terá conquistado o respeito dos amigos e inimigos. não foi o caso. e vamos para o “lá veritá”, fazer um mea culpa que não se priva dos acepipes. foi este o fim-de-noite dos desesperados ?

para quem não sabe a união foi o primeiro jornal onde pus os pés na paraiba. tempos em que o máximo que queríamos (rênio, sílvio osias, formiga) era um milk-shake na lanchonete do bompreço da joão machado. durou pouco, uma semana? gonzaga rodrigues, proposta de agnaldo almeida, hesitava em me ver na chefia de reportagem. eu, queria a secretaria de redação, ocupada por arlindo almeida. gonzaga não topou. um dos seus acertos. sem piadas.

pessoalmente, vinha acompanhando o trabalho de nonato frente a união. inegavelmente, vinha melhorando. sumiram as excessivas menções ao nome do governador na primeira página. princípios de segmentação e esboçados em novas colunas entregues a colunistas polêmicos. a diagramação ainda claudicante não comprometia. faltava mexer no colunismo social social que pecava por ter duas colunas: uma com excessos. outra, com faltas. só a propaganda do produto continuava uma merda. o saldo geral era bom para a excrescência que é um jornal do estado. mas, já que existe, não tinha porque ser puxa-saco, pouco inteligente. devia ser profissional, principalmente no caso da atual administração que tem uma das piores comunicações governamentais que se conhece. só que a união, infelizmente, ou felizmente, não resistiu a três tiros. e estampou em sua fachada centenária seu atestado de óbito enquanto jornal que não preza a acribiologia. a mesma cerimônia velamos quem isto permitiu, apesar de continuar vivos e bem dispostos a cometer, tantas vezes quanto forem necessárias, assassinato da postura profissional em nome de um “ certo profissionalismo” que se enebria em over-doses.

o episódio ressucitou balzac: “ essa bonomia aparente que seduz os recém-chegados e não pede traição alguma, que se permite e justifica tudo, que se queixa em voz alta de uma ferida e a perdoa, é um dos caracteres distintivos do jornalista. essa “camaradagem” corrói as mais belas almas, enferruja-lhes o orgulho e mata o princípio das grandes obras consagrando a covardia do espírito “. isso vale para marcos tavares, pelo segundo tiro.

devo ter autoridade para escrever o que escrevo. 1980. o norte. bombas de gás lacrimogênio em punhado de camponeses e crianças. governo burity. secretário de comunicação social social, carlos roberto. secretário de segurança, luís bronzeado. carlos roberto traz a nota do governo, clamando pelo bom senso. não pestanejei. publiquei a nota do governo e o 8.513.000km2, artigo anti-latifúndio, anti-governista, sem tréguas. o day-after foi uma reunião de cúpula com o secretário de segurança, mais alvejado – e nem por isso me deu ou mandou dar um tiro – para no fim da tarde marconi góes anunciar minha “substituição”. fiquei quites com minha consciência. o jornal com seus interesses (faz parte do jogo). e cada um na sua. mas teve ainda quem atribuísse ao combate sexual da juventude, publicado no quem-me-quer, na melhor estética gabeira da época, escrito uma semana antes, a causa possível da minha demissão. coisas do espírito de corpo às avessas. acontece. existem muitos luízes otávios por aí.

o tempo passou. eu continuo de bem comigo mesmo. como diz shaw, “ quem não for um revolucionário ao vinte, certamente será um canalha aos quarenta “. estou nos estertores dos trinta. posso ler e adaptar casti: “ il piacere di azzar la testa tutto l ´anno é ben pagato da certi quarti d´ora che bisogna passar “( o prazer de levar a cabeça levantada durante todo o ano é bem pago com alguns quartos de hora que é precis passar) fora das "sextas da adega “.(quem paga minhas contas sou eu, não o contribuinte).

vão atirar em mim também ? com certeza. de quantas maneiras se pode mesmo matar – ou tentar – um homem ?
pelas páginas de a união burity saberá dizê-lo ?

(texto integral publicado em o norte, associado da paraíba, em 11 de novembro de 1993).

(gulliver, durante algum tempo, restaurante da moda frequentado por políticos e classe-dominante-sem-classe- da paraíba. adega do alfredo, idem.
no gulliver o então governador da paraíba, poetastro ronaldo cunha lima, disparou três tiros em tarcísio burity ex-governador do estado;em nome da defesa do filho, cassio cunha lima, que mais tarde viria também a ser governador, confirmando a desonra de um grupo que isquemizou o estado durante anos e anos(ficha suja em 2010). o acontecido deu-se por supostas ofensas feitas por burity em entrevista dada a rádio local. ronaldo, disse que agiu, antes de tudo como pai, em defesa de um filho já sufragado.

tarcisio sobreviveu e antes de morrer perdoaria a ronaldo cunha lima, que naquele ano seria galardoado com o prêmio de melhor poeta do estado. cunha lima nunca foi a julgamento acobertado pelo corporativismo de um senado, elegeu-se senador – e de uma câmara – que nunca deixaram de feder, como se vê até hoje.

na época, diretor de criação associado do grupo criativo de atendimento em propaganda e marketing – GCA –, agência que batizei e fundei na paraíba, disparei o artigo que provocou erizipela nos sócios preocupados com a empresa, de olho grande que estavam nas contas do governo, dominado pelos tentáculos do grupo ligado aos cunha lima.

pensei cá comigo, pensei à época— mas que diabos! ou se é publicitário ou um rato, se bem que hoje tá quase tudo a mesma coisa.
e ratazana é que não sou. falava e ainda mais alto o jornalista e o cidadão indignado.

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