segunda-feira, 16 de setembro de 2024

pinxinguinha: um projeto carinhoso para alguns e sufocante para o resto?



“reduzir uma sociedade de 100 milhões de pessoas a um mercado de 25 milhões, exige um processo cultural muito intenso e sofisticado. é preciso embrutecer esta sociedade de forma que só se consegue com o refinamento dos meios de comunicação, dos meios de publicidade, com um certo paisagismo urbano que disfarça a favela, que esconde as coisas”. oduvaldo viana filho, 1974, pouco antes do seu falecimento.

as subvenções estariam domesticando e paulatinamente enterrando a cultura nacional ?

esta é a pergunta que muito se tem feito ultimamente. de críticos da cultura a políticos, de provocadores a setores da própria classe artística, preocupada com o derrame subvencionista para feitura de confeitados pacotes culturais, servidos à guisa de fartura e cardápio mas na verdade prato único de um regime imposto a nortes/sul/leste/oeste deste país.

o projeto pinxinguinha já deixou o aeroporto dos arrecifes velejando numa maré mansa financiada pelo banco do brasil até a foz do amazonas. em nossa cidade foi efusivamente saudado com os chiliques do já era tempo, finalmente lembraram-se de nós, pois dos cajús as cirandas nós também somos amantes da cultura. lado a lado, bom caldo de páginas descritivas e manchetes vistosas aos “ são os artistas do sul que vêm “. as cartas à redação registraram afluência dos ótimos, maravilhosos, sou macaca da marlene, muxoxos ao simone´s gay club e protestos de algum tinhorão da terra contra os arranjos dos grupos acompanhantes. contudo, nenhuma preocupação de um comentário vertical sobre os aspectos formais e conteudísticos ou das “bençãos” que determinaram a vinda do pixnguinha e outros artefatos. nenhuma especulação quanto às consequências da invasão dessas troupes no espaço artístico/cultural do recife, província que luta para esconder – e não eliminar – as consequências de seu complexo de “sub” querendo ser “ super”. recebidos todos foram com salamaleques de quem já, eunucos, afeiçoados a paternalismos adocicados em meio a muitas laboradas. questões da hospitalidade gilbertiniana ?

a platéia recifense – e não os “meninos” da cidade – acostumados com outro gosto, deliciou-se com três meses de pirulitos musicais. mais nada. nada mesmo além de reclamações inconsequentes sobre apertos e beliscões. o projeto merecia maior atenção, a nível macro e micro analítico, para uma degustação crítica como mandam os bons preceitos da biótica.

a atitude de democratização da cultura muitas vezes tem sido desastrosa sob o ponto-de-vista cultural/artístico e socialmente tem levado a um obscurantismo e alienação cada vez maior. daí a preocupação que tem a ver com o perigo iminente da maior intoxicação de um público/povo confuso pelo regime dietético imposto, com uma cozinha cultural sem pratos da casa (afinal um pouco de terra no “mousse” de quem não tem feijão com arroz, não faz mal pra ninguém: aliás, é até bom pra garganta).

esses pratos, quando não substituidos por guloseimas alienígenas – com suas consequentes cáries, cirroses e acefalias – são refogados por um tempero ditado por uma receita ideológica que adultera o sabor da feijoada geral brasileira que há muito saiu dos panelões de barro para as panelas de pressão das multinacionais. esse desacerto intelectual/intestinal intencional leva a inversão dos movimentos peristálticos consequência do empaxamento – daqueles que comem – burguesia e classe média e ao esvaziamento cada vez maior no ventre de nossa necessidades básicas cujo ronco da pança é abafado por bandas musicais quando não marciais. esse regime forçado contribuiu cada vez mais para um distanciamento dos caracteres gustativos culturais pertinentes a aproximadamente 80% dos brasileiros. o distanciamento/esquecimento é feito através de uma política cultural (entremeio de uma política global) que com maestria e pérfido critério renega essa população maior que deveria ser tomada como objetivo a partir de suas necessidades estomacais/culturais. necessidades estas gritantes, mas abafadas por guitarras e “baterias” afiadas que camuflam a miséria, concentrando-se em extratos da população financeiramente ativos e interessados na manutenção do “ status quo”, enquanto que a maioria produtiva fica a ouvir o canto das sereias e algum xaxado aqui e acolá num arrastado a caminho da solapação geral.

na verdade o projeto pixinguinha trouxe alguns bons momentos em meio a uma programação bastante irregular. mas esse “ bombom” é muito relativo e cômodo confrontado às condições atuais da sociedade brasileira e do entranhamento de suas relações. é o caso de pensar que “ coisa oferecida ou tá podre ou tá ardida “, principalmente quando gerido a nossa revelia e de maneira muito mais eficaz para o desinchamento de alguns reclamos e conservação da boa fé de quem “ingenuamente” satisfaz-se com tão pouco em meio a muita falta de tudo. torna-se portanto necessária a especulação e a divulgação de certos fatos encolhidos tentanto a visualização do mosaico por inteiro, incluisive fazendo sentir que paliativos e migalhas são questionados não por mera contestação,e sim, porque demos falta do naco maior surrupiado.

o projeto pinxinguinha é parte de um conjunto de medida identificadas com a politica naciona de cultura, através do qual o estado vem desde 1964 desenvolvendo uma vasta e complexa organização cultural que permeia o conjunto da sociedade civil em suas instituições, grupos e classes sociais.

o início da década de 70 marcou o arranque definitivo para o investimento maciço em capital humano (educação) e nas extensões do projeto. nas universidades procurou-se modernizar o ensino, isto é, torná-lo eficaz e econômico segundo as exigências do modêlo econômico vigente, despolitizando as atividades de professores e alunos, numa produção massiva de tecnocratas visando uma massificação e não a emancipação, através de um ensino que torna o aprendiz dependente e sem capacidade crítica(ver manfredo berger, educação e dependência, difel/ufrgSI, 1976). nas extensões do projeto se tratou de despertar à atenção do brasileiro para a cultura (esportes também), mas evidentemente para a chamada cultura oficial, cujas manifestações tem o toque do comportamento extremamente interessante ao binômio segurança e desenvolvimento.

seguindo estes moldes iniciou-se dentro dos cânones estabelecidos o incentivo ao faça você mesmo arte, com manuais e proposições de linhas estéticas para um retorno absoluto ao l ´art pou l árt , como bricolage (trabalho feito em casa como lazer). desde as “inofensivas” aulas de educação artística que descaracterizam os aspectos sociais e universais principalmente de uma criatividade que possa vir a ser inflamável, dando, da aula ao recreio, a visão de arte como puro brinquedo e/ou terapia, confundindo o significado e alcance político da mesma desde cedo, além de toda sorte de tentativas de dissociar o artista do cidadão em seu papel indivisível na formação da cultura, procurando conflitar a verdadeira função da arte na sociedade.

nessa reformulação também se procurou modificar a política de atuação de orgãos públicos relativos às artes, ciência, pesquisa e divulgação de informações e conhecimentos. o ministério da educação e cultura inflou-se com orgãos que balizam agora aspectos básicos das condições de produção e debate cultural no país. conselho federal de educação, fundação nacional de arte(funarte), serviço nacional de teatro, empresa brasileira de filmes, conselho nacional de folclore, entre outros.

a este respeito pode ser agumentado, e aceito até certo ponto, que alguns desses orgãos, como o SNT, por exemplo, realizam até hoje um serviço onde antes o abandono era geral, inclusive por questões de quem em sua direção pertencer a classe artística ou portadores de sorriso liberais. mas o exemplo de “patética, de joão ribeiro chaves netto, premiada pelo SNT, por uma comissão determinada pelo orgão, no concurso de dramaturgia de caráter nacional que teve os originais “sumidos” pela polícia federal bem como o decretado cancelamento do prêmio é patético, não deixa alternativas. desentendimentos entre o ministério da educação e ministério da justiça? não. apenas que na hora do pega pra capá, “liberais”, “sensíveis”, e tentativas – bem sucedidas algumas vezes, aceito – de fazer um trabalho paralelo acordam em brasa.

octávio ianni (in o estado e a organização da cultura, encontros com a civilização brasileira nº1) fala acerca de uma produção cultural a três niveis: incentivada oficialmente; tolerada (com sarrafões, o grifo é meu) e proibida. ambas a duas como diria o bom filósofo trazem o carimbo do DCDP/PF*, a outra, “ tatuagens”. essa permissão quando não ludibriada pela inteligência de alguns e agora, a rara burrice dos censores, transforma-se de uma burocracia intencionalmente montada em tartarugas, a passos de relâmpagos (capitão marvel nunca enganou ninguém) desde que o produto, obedecendo a ordem do dia, trate de valorizar, revelar, ou desenvolver, a “cultura brasileira”, a “memória nacional” , os “valores culturais brasileiros”. nesse sentido todos apoiam a circulação e o consumo de artesanato, folclore, literatura, teatro, cinema, artes plásticas e o escambau, numa pseudo-abertura verificada nas formulações correntes ou nos discursos dos governantes e seus porta vozes. mesmo assim há o trato distinto para o “patrimônio histórico e científico”, denominação dada ao patrimônio dos dominantes, ao passo que o dos subalternos é “ artesanal e folclórico”. mas o povo existe apesar do povo. porém, quando o paternalismo ataca, esse artesanato e folclore, sofrem mordiscadas devastadoras. quem já viu um folguedo popular em seu habitat de origem e assistiu o mesmo transportado para a casa da cultura, por exemplo ? os tentáculos são infalíveis. sob a aura de prestigiar os valôres autênticos, esclarecer a classe média, contribuir para a melhoria soció-econômica daquele que “brinca”, através de um cachê que não resolve problemas crônicos, se exerce o contrôle da criação popular incutindo-lhe freios, que vão desde o corte do picante – a moral como qualquer outra forma de ideologia tem um caráter de classe – a fazê-los traduzir valores dominantes por sua bôca dominada. quem viu um facêta numa e noutra apresentação pode calcular quanto seus lábios estariam amargurados.

muitos desavisados (até quando meus filhos?) entreolham-se ensimesmados perguntando-se, se assim fosse, porque haveria de ser trazido tantos eventos, trazendo inclusive cantores malcriados como o gonzaguinha? realmente, isso leva a destrambelhar o raciociocínio de quem mais audaz. mas não há bem perfeito que não mate e vice-versa. e vem justamente daí , a depender da inteligência de quem envolvido, a possibilidade de uma vez “permitido” , de estabelecer uma meta-comunicação ou um trabalho inverso como queiram, desvencilhando-se de outros perfumes e dando o recado. porém tudo não é tão simples como parece.

no opinião 277 (quando circulava) josé castello branco nos fala da percepção por parte de estado da necessidade da “criação da cultura nacional”, da tradição cultural. o rosto cultural de um país como um deus criando uma natureza a sua imagem e semelhança, para que lhe dê credibilidade, “consistência”, para que lhe dê um ambiente “natural”, para que não possa transparecer a verdadeira realidade como nos fala vianinha no intróito desse artigo. como também nos falam chico buarque e ruy guerra conforme a metáfora do personagem criado. calabar é um assunto encerrado. porque o que importa não é a verdade intrínseca das coisas. mas a maneira como elas vão ser contadas ao povo. e quem disser o contrário é comunista e fim. vai se haver com o estado. como é que pode ?

por isso o pinxinguinha está aí. os mambembes estão aí, inclusive inseridos, aqui e acolá, por descuido ou sabe-se lá por quê, com alguns irriquietos membros da classe artística brasileira. mas o mais inquietante, o discurso – agora discursivo – musical do gonzaguinha, fotografia muitas vezes bem tirada, ou o original em terceira dimensão ? a arte se nos aparece como meio de pensar a realidade. por mais objetiva e contundente tem uma “direticidade” indireta na medida que colhe do real. é meio e não fim. e só um processo didático muito intenso pode torná-la, numa sociedade de massa e informações camuflada, contudente. questão de código.

além disso, o marketing também tem produzido seus artigos inflamáveis e o próprio sistema desenvolveu com mais eficácia sua antropofagiazinha com uma estratégia sutil – ou se não na porrada! – e sistemática eficiente de arregimentação, contrôle e re-arranjo dos “explosivos”, toleráveis que convém estar perto. nada mais cômodo tê-los por perto para um possível caso de incêndio. uma luta frontal com dragões só aumenta em dôbro a sua força. não se pode deixar o fio esticar, é um princípio fundamental. isso é o famoso banho-maria. quem aguenta um tempo acostuma-se com o calor da panela e estabelece um equilíbrio desejável até que o processo inevitável da história faça suas mutações. para quem estava lá em cima foi bom enquanto durou. embaixo o buraco e outro.

cr$ 1 milhão foram investidos por parte das autoridades locais em hospedagem e alimentação— e esses teatros totalmente desaparelhados ? além do desvêlo incomum de acompanhar pessoalmente o desenrolar dos shows e inclusive impedir aproximações indesejáveis, missão cumprida com eficácia por um dos funcionários do departamento de cultura para lá destacado. ah! se fosse.show daqui.aliás, show local é coisa de moleque, bicha, maconheiro e comunista. já criou-se o consenso geral. é necessário urgentemente por parte dos artistas maior atenção e uma ação com muito maior responsabilidade quanto a seus trabalhos. o ciclo vicioso está instaurado. não se tem bom movimento porque a qualidade-quantidade artística é ruim. a qualidade artística é ruim porque havendo pouco público provoca a emigração e desinteresse. a questão é complicada e extrapola a nossos domínios. mais uma consequência da dominação cultural, que inclusive já norteia padrões estéticos não consonantes com a realidade econômico-social pernambucana. o santo de casa que não faz milagre não é uma questão só de provérbio, apesar do karma do recife, que carlos penna filho já constatava ao afirmar: recife é uma cidade escorpião. mata aqueles que a amam. que o digam alceu valença, robertinho do recife, e outros tantos.

até que ponto a quebra do hiato cultural com um direcionamento one way contribuiria para a abertura de mentes e espírito? ou, isso sim, traz três meses de maciça dosagem destrambelhando o espaço cultural e físico, solidificando cada vez mais características explícitas de dominação cultural apoiado por financiamento e regras específicas de atuação. três meses de festança, com marcas deixadas para um período de nove. considerando-se unicamente para efeito deste tópico as “ boas intenções”, que rebento este período de gestão jejuado fará nascer ? e os filhos não tão pródigos assim? que será deles ?

a cultura é notório é um dos mais eficientes aparatos ideológicos do estado para conservação dos seus valores no bojo de suas manifestações programadas , sementes adubadas de difusão e legitimação das normas políticas vigentes.

de qualquer maneira mesmo armados de boas intenções a eficácia e os critérios de tais projetos em relação ao que aparentemente se propôem tem uma objetivação defeituosa e frágil.

a partir do próprio critério de participação dos intérpretes e músicos que recebem razoáveis salários. só são convocados os do eixo centro-sul sob a alegação de mesclar um cantor em evidência a um em decadência, o que evidentemente não ocorreu em recife, palco de evidências e decadências e toda sorte de combinações. lá entre eles o processo de escolha gerou quipropós pois um projeto que paga razoáveis salários faz pressupor que o “ carinho” só para os amigos, porque é óbvio que o “pinxinguinha” não é nenhum exército da salvação. o direcionamento do pinxinguinha tem um só sentido. só vem, não vai, como de hábito. por cr$ 15,00 as 18.30 e cr$ 120,00 ou cr$ 60,00 as 21 horas a dominação é a mesma com apenas ligeira alteração do horário, grande no preço, o que não acontece com o público pois. afinal, não é crime mandar o chofer comprar o ingresso e depois comparecer. um pouco de populismo não faz a ninguém e é coisa também de gente bem.

na verdade, o projeto alcança a um novo extrato sem oportunidade de ir ao teatro, isso em termos concretos, ou continua abrindo(abrigando) por cr$15,00 o mesmo beautiful people costumeiro, também verificado em maioria nas apresentações do teatro do parque ?

os músicos que compôem o projeto não fazem parte nem de um grupo dito progressivo dentro da música popular brasileira, representando uma faixa comportada ou dentro dos cânones permitidos de malcriação. aliás por muito menos ivan lins, que deveria abrir o projeto com nana caymi em virtude de uma única apresentação paralela na universidade da bahia quando o projeto lá se passava foi afastado do mesmo e há quem diga que o projeto quase acaba. o que é bom para o teatro não é bom para a universidade, constata-se. isso teria inclusive gerado a proibição, no período, de shows de alta combustão no planalto.

a questão não valida o caráter inflamatório do pinxinguinha, porque além do fato dessa possibilidade ser afastada, muito embora tenhamos em alguns estados noites quentes, não estamos precisando na verdade de inflamação e sim de esclarecimento, pois nossa inflamação passou de vermelhidão a pustemação e quase nos faz perder a cabeça.

outra questão que me parece interessante é a da possibilidade de em meio a determinados envoltórios se conseguir superar o ditame da forma para embalar o conteúdo numa incomoda/ação para balanço da platéia. veja-se balanço como balanço e não pulinhos. seria como um distanciamento teatral, contudo com características de fazer percerber de maneira clara as nossas contradições e a razão maior de nosso discurso musical/teatral. a questão me incomoda tanto como articulista, como compositor e homem de teatro. é claro que esta questão “ estranha” não pode ser desenvolvida aqui tal a sua envergadura e profundidade que abarca desde a abordagem filosófico/estética de eco, a discussão da produção cultural no sistema capitalista, matéria deveras prolixa a qual não domino. mas ela possibilita levantar mais alguns pontos em relação a performance do pixinguinha.

os discursos estariam se tornando discursivos, o marketing vem produzindo inflamados revolucionários e a repetitividade /redundância de mensagens no jogo incerto da falta de informações diminui o poder de impacto dos recados junto aos sentidos adormecidos pela catequese e por falsos rebates festivos. pergunta-se se o fato de um gonzaguinha – aqui tomado como exemplo mais facilmente reconhecido – vir acoplaldo ao projeto, a seu modo irrequieto e denunciador não seria fato relevante para a formação de uma consciência coletiva ? qual a consciência coletiva do brasileiro ? mais aberta a denúncias ou extro-determinada guiada para os valores dominantes, principalmente o público do pixinguinha ? se fosse o caso de desprezar o aqui já levantado sobre posição da arte como meio e nao fim, teríamos de considerar que em termos de sacudidela da platéia um walter franco, um hermeto paschoal, são muito mais políticos e eficientes insurgindo-se contra uma estética política que já cria seus cânones para não ser criticada. o sistema já se permite folgas o que não significa que haja abertura. neste sentido diz-se que o caráter experimentador virá no projeto vitrines que mesclará um cantor de renome a um novato, o que não significa que ele seja novo. além disso, dentro desse prisma mesmo os experimentadores natos podem cair na redundância/repetitividade, caso do “ faquir da dor”, macalé, que assumiu posições incontestes, como o desafio ao público no festival internacional da canção, em 1969, com gothan city. macalé também veio pelo projeto repetindo um mesmo trabalho, apresentado anteriormente três vezes – nessa cidade. macalé já está sendo incorporado. a metamorfose tem de ser constante para eficácia senão e rapidamente incorporada, que o diga raul seixas que “ parou no dia em que a terra parou”.

os artistas da terra ficam numa situação anacrônica. sem financiamento não podem reduzir os custos da produção para melhor operacionalizar suas apresentações, tendo por concorrentes, simones, marlenes, vergueiros, etc, acessíveis aos cr$ 15,00. mas estes mesmo cr$15,00 podem ser pagos por que extrato da população ? evidentemente não é quem ganha salário mínimo, se fosse o caso do projeto ser voltado para outros extratos que não classe média em potencial. com referência a essa mesma classe média, nossas bilheterias já estão registrando as interferências do pixinguinha, principalmente sem o aparato publicitário do mesmo. ou o movimento é tão ruim de qualidade mesmo ?

resta a questão entre muitas outras questões de uma vez tão políticos que fazer certos membros da classe artística envolvidos nessa e noutros ? afora os produtos de marketing há que se ver que mais que nunca não se pode perder terreno e tem de estar de dentro correndo o risco de ser muito mais utilizado do que utilizar. a questão dos artistas tem na sua contradição a raiz econômica, o que explica de maneira singular, kanapa in situation:” vivendo em uma sociedade contraditória, realizando um trabalho improdutivo/produtivo, assalariado, mas não integrado ao modo de produção capitalista, constrangido a elaborar e difundir uma ideologia destinada a perpetuar a exploração de que ele próprio é vítima “. é, é esse vício de comer que nos mata.

obviamente o quadro aqui traçado corre o risco da abordagem simples de quem incompetente – podem guardar a afirmação para a réplica – mas, como farinha pouca, nosso pirão primeiro, ericei os cornos e entrei na dança.

com a palavra os sociólogos, e como diz febvre, “ apliquemos o bom método compliquemos o que parece bem simples “.

p.s. escrito num dia em que a “feijoada” estava cheirando.

* departamento de censura às diversões públicas da polícia federal (no original publicamos apenas a sigla, já que era mais conhecida à epoca do que mcdonald´s)


in debate, cultura em pernambuco, publicado no jornal do commércio, no domingo, 1 de outubro de 1978. artigo de página, na contra-capa do caderno C, apresentando celso muniz como jornalista e ator de teatro. o que na verdade eu era.

a inversão do genocídio no dever de casa

apesar da censura e das tentativas de descrédito o livro é sucesso editorial, já na 16 ª ed


genocídio americano – a guerra do paraguai – júlio chiavennato – brasilense - segunda edição – 188 pp – Cr$ 130,00.

após o final da guerra (1865/1870) mais de cem anos de mentira e nebulosidades sobre o quase extermínio de uma nação contínua - através da proibição não apenas formal a pesquisas mais instigantes ao acervo da guerra do paraguai, capturado principalmente em cerro corá e assunción - desta vez sob as patas da cavalaria econômica/cultural dos vencedores que inicia seus primeiros exercícios de campo nas articulações vitais do dever de casa(a capa de sílvio dworecki é a alusão perfeita ao fato), investindo-se sob a ação de canetas pontiagudas, num nacionalismo xenófobo que a pequenos traços deforma e formula a caminho da irreversibilidade, a alimentação do orgulho hipócrita de adultos extasiantes com cenas falseadas de episódios históricos e militaristas. conservado no formol do ufanismo deturpado, francisco solano lopez continua sendo apresentado(e a história oficial não abrirá mão, afinal esta guerra determina a patronalidade de duas armas) como sátrapa, sanguinario, comedor de criancinhas no café da manhã, aliás como são representados todos que surjam como re-visão do mundo e assim contrariem o dissoluto absolutismo cultural e a ditatorial/idade política do momento dos vencedores.

a matança tem prosseguido e continua às avessas, apresentando os paraguaios como bárbaros índios, ignorantes (os de ontem e os de hoje) uma vez que o leitor não tem acesso(e não faz por donde tamanha a cataquese e orgulho medroso ante a verdade) a uma historiografia crítica e sim oriunda de um império que sedimentou conceitos básicos e e opiniões, em troca de favores outros para encobrir as verdadeiras razões e extensões do genocídio.

de teixeira mendes, ao coronel bernardino bormann, jesuíno lopes & cia. editores, curitiba, 1897, as anotações corajosas do coronel cunha matos sobre a história da guerra do paraguai de max von versen, livraria editora itatiaia ltda. belo horizonte, 1976, a probição do “ solano lopez, o napoleão do prata, de manlio cancogni e ivan bóris, civilização brasileira, que foi vetado em 1975, autores têm sido relegados ao esquecimento por sua criticidade histórica o que mostra o combate a toda e qualquer tentativa de revisão histórica que signifique atentado a versão oficial dos vencedores. o turismo da historiografia oficial utiliza o álibi do perfeccionismo para uma análise que não seja a formal. a postulação crítica dos fatos tem sido substituida por números: condições climáticas, horários, quantidade de canhões, comandantes a frente, etc. os relatos de testemunho pessoal são utilizados por historiadores para fazer o apanágio que encubra uma realidade desprimorosa para a política imperial da época e também para o hoje, pois quem se arrisca a “ cometer um crime contra a nacionalidade “. caxias e tamandaré (patronos do exército e marinha, respectivamente) numa posição bem diferente da que fomos acostumados a decorar?

o problema não é exigir a cabeça de quem quer que seja, mas a criticidade quanto ao erigir bustos de duvidosos heroísmos e a humana consciência de que, sendo homens, e numa condição de guerra, algumas ações acabariam mesmo por acontecer. e chega de estoicismo baratos.

também não se trata de inquisitoriar ao avesso uma interpretação formal de historiadores alienados que testemunharam a guerra ou a escreveram através do relato apaixonado de homens que viveram as batalhas como por exemplo a historiografia de taunay e joaquim nabuco. o problema é a estagnação cultural e a repressão cultural(mesmo em tempos de abertura) que dificulta a revisão histórica que, uma vez não efetuada, ocasiona os desastres que são os livros, principalmente de primeiro e segundo graus, que: ou vem com vagalhões de dias heróicos (“ como se a história fosse feita para se comemorar datas”, em festas sazonáveis) ou com o anedotário cabraleônico. tudo isso, com o agravante de ser alimentação única e restrita de jovens, num país jovem, de população predominantemente jovem. isto faz pensar seriamente no futuro, já, aqui e agora.

os adultos, estes foram tão bem catequizados que muito embora pela aferição primária da comparação geo-política e territorial que gera um zum-zum-zum, afinal o descomunal poderio de brasil, argentina e uruguai de contrapeso, faz qualquer um pensar quando o “terrível” inimigo descobre-se é o pequeno paraguai que despertou outros interesses, daqueles que temerosos por“razões outras” estancam e não fazem por donde. “yo el supremo” de augusto roa bastos, sobre o ditador franca (epifenômeno que iria modificar o panorama do paraguai e chegar a ameaçar os interesses ao tempo de solano lopez) foi traduzido para o brasil pela editora paz & terra. mas um ou outro outro furo (exceto o rombo de chiavenatto) não são suficientes para a introdução à compreensão totalizante dos acontecimentos. livros tais como “processo a los falsificadores de la história del paraguay “, atillo garcia mellid, ediciones theoria, buenos aires(1963) ou “ la guerra del paraguay: gran negócio”, leon polmer, ediciones caldén, buenos aires(1968) por certo aprimorariam a visão sobre o assunto se aqui chegassem senão além das citações bibliográficas ou na maleta (finalmente livre?) de algum viandante interessado em alguma coisa a mais “ que las noches cálidas de latino américa “.

júlio josé chiavenatto mandou ver alguns países da américa latina movido – muito menos – pelo combustível da indignação contra as atrocidades cometidas pelos “corações cristãos do brasil “(e atribuidas em sua totalidade aos paraguaios) e - muito mais – movido pela indignação contra a escamoteação que a quase totalidade da historiografia brasileira fez, e faz, sobre a guerra do paraguai. por isso, a importância do livro, porque é nas rodas da moto rápida deste paulista, que o paraguai inicia o difícil caminho dentro de nossas fronteiras da revisão histórica e nela rasgam-se sem eufemismos as falsas bandeiras da intocável reluz/au/sência dos preceitos históricos de nosso heroísmo chavão.

as resenhas em geral tem-se ocupado de chamativamente destacar fatos como se a intenção fosse um certo revanchismo ou pretensão de atirar lama ( tá na moda ?) aos vultos politicos/militares que desfilam nos dezessete capítulos sangrentos e venenosos desta guerra. da contaminação das águas ribeirinhas, por caxias e mitre; da matança dos niños-combatientes a 16 de agosto de 1869 (20.000 soldados brasileiros contra quinhentos soldados e 3.500 crianças de nove a quinze anos) ; do assassinato de 96,50% dos homens paraguaios e 75% do povo; são chamarizes eficazes a uma abordagem sensacionalista do assunto. mas não é esta a intenção do livro. este comportamento equivale as especulações editoreiras em torno do assunto que, por exemplo, transformaram a tese de doutoramento de 1976, intitulada “ moeda e vida urbana na economia brasileira, rui guilherme granziera, edição hucitec/unicamp, em “ a guerra do paraguai e o capitalismo no brasil “, onde os fatos não colam coisa com coisa e servem apenas de falso chamariz a um livro, inclusive de qualidade, mas de pretensões outras.

muito mais importante e introdutório, além de possibilitar o início de novas abordagens, são os capítulos que circulam em torno do capitalismo do barão de mauá e suas ligações com o capital inglês, papel de mr.washburn; o manuseio das missões diplomaticas e manuseio dos signatários da tríplice aliança pelos mesmos interesses ingleses; a maçonaria e suas extensões(se bem que a abordagem é apenas noticiosa); a imprensa de guerra( ver o “cabichui” contas as “macaquices”); a composição dos exércitos e a política escravocata de então, etc. enfim, tudo o que prepara a demonstração da verdade que não é nova: o poderio e veneno da
insaciabilidade dos interesses econômicos conduz homens a posições deprimentes.

as críticas maiores a chiavenatto, além da adjetivação de maniqueísta por todo o lado, são quanto as revisões históricas e defesa dos princípios diante do “modus operandi” que o autor teria efetuado ao deixar essas intenções explícitas no livro. parece-me que o afã pelo livro despertou leitura precipitada e julgamentos nos seus ávidos leitores (os favoráveis, os do contra ainda estão se recompondo, evidentemente não tão rápido como sempre o fazem) que mergulharam nos fatos desprovidos de não “ uma bula de contra-indicações”, mas do distanciamento exigido a tais leituras, isso aos críticos, pois os leitores normais ainda estão ainda baqueados entre a incredibilidade e o como é que pode, se saiu ?

para que possamos motocar com chiavenatto, o livro necessita de algum esforço na concatenação de alguns fatos( e não quanto a sua leitura em sí, que pelo contrário, dado a linguagem jornalística, permitem (sem o peso de uma falsa postura histórica que disso precisa para referendar o encobrimento de seus deslizes) uma leitura agradável e excitante.

publicado originalmente no diário de pernambuco, no panorama literário , no domingo 29 de julho de 1979.

nota atualizada: o paraguai na época, era uma nação independentemente econômicamente. uma indústria pioneira, inclusive no setor de armas, com fundições e know-how próprio, sustentava uma população vivendo com qualidade de vida superior a seus vizinhos. a guerra, articulada pela inglaterra, tinha como objetivo acabar com esta mesma independência, procurando esfacelar o estado paraguaio, submetendo-o as regras do capital colonizador inglês.

mais sobre chiavenatto em : http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1307797502_ARQUIVO_HistoriaehistoriografiarevisandoaobraGenocidioamericanoaguerradoParaguai,deJJChiavenato.pdf

uma crônica inacabada(algumas observações acerca do movimento de teatro não empresarial da confenata)

“…. dessa gente oscilante, instável, e curiosa, que são os intelectuais e os artistas em particular. gente que, no fim de contas, é o sal da terra.”

a controvérsia sobre a participação ou não, do estado do rio grande do norte como unidade federada junto ao movimento de teatro não empresarial da confenata (confederação nacional de teatro amador) está instalada. diria até, com sensata medida, que o brasil, ou sejam, as federações dos demais estados(1) aguardam a resolução por parte dos grupos atuantes no rio grande do norte, face ao seu movimento ser razoável, quer em questões de qualidade, quer em questões de continuidade, fruto do trabalho dos grupos da capital e do interior (mossoró, etc). criar ou não? uma federação que congregue os grupos de teatro para que o rio grande do norte tenha uma representatividade oficial: eis a questão. os do contra, como em todo brasil – afirmação constatada em passagem por diversos estados – baseiam maior parte das vezes seu “ posicionamento “ levantando questões que denunciam uma coerência: imensa preguiça braçal e intelectua ou no máximo não procurar sarna pra se coçar. a questão e posições da federação e a própria confenata merecem ao menos considerações que deveria resultar de um encontro onde proficuamente fossem analisadas as arestas da questão. mas, eis um problema maior: encontro de gente de teatro. o rio grande do norte não fica atrás e não foge à regra. os “ espécimens diretores” são muito arredios a tal prática. enfurnam-se em seus círculos grupais, nos quais são colonizadores e reis dos seus recados existenciais e intelectuais. talvez por isso, a confederação em seu programa político modelo para 1978, recomende ao máxima a descentralização, procurando fazer com que as bases sejam atingidas e ouvidas, elementos que verdadeiramente podem operar mudanças, evitando-se assim deslocamentos de cima para baixo, que refletem um direcionamento exclusivo dos diretores, condução elitesca de quem tem maior acesso a informações e as manipula e que, constantemente, são pegos em extremo individualismo estéril que apenas reflete profunda mesquinheza camuflada sob um processo de auto-defesa.

é evidente que uma federação não é panacéia para os problemas emergentes do teatro e seus praticantes. é preciso primeiro detectar em cada comunidade seus próprios problemas e meios de solucionar questões, para que se chegue a uma estrutura de organização eficiente. a experiência mostra que uma organização em moldes administrativos razoavelmente direcionada contribui para operar uma união entre os “porcos-espinho” – que durante a neve, embora ferindo-se , aquecem-se roçando-se uns aos outros – o que além de “socializá-los” democraticamente podem furar um bloqueio “burocrático” imposto ao teatro. e, se conseguir aliar ao processo administrativo um processo politico que desencadeie um exame –e re-exames! – das manifestações teatrais, sua receptividade e seu relacionamento com a comunidade “piloto” de atuação, quer sob o ponto de vista estético, econômico e ideológico – que é o determinante – é de saudar-se com satisfação tal movimento – que acham carlos fortaso, tarcisio gurgel e o pessoal do amai ? - . creio que já aí se encerra um bom motivo para um primeiro encopp 1 1 simntro rumo a. é claro que, devido a falta de prática, o próprio clima dos primeiros encontros não será amigável. é o início – ou podem haver surprêsas – a própria confederação tem seus problemas devido a ala radical e seu presidente tácito freire borralho, bem intencionado, mas que tem cometido equívocos, ora por movimentos passionais, ora pelo desejo de acertar apressadamente sendo enzima do processo. mas a confenata vem paulatinamente se organizando.

muito embora eu participe de tal movimento, acho necessário um exame dos prós e contras da questão. é muito recente tal movimento. sua origem merece questionamento. é significativo que esse movimento tenha sido desencadeado verticalmente. primeiro porque os grupos nos estados não sentiram necessidade de se unirem em um orgão de classe. segundo, que alguém tivesse que dizer aos praticantes de teatro não empresarial que estes estavam pegando o bonde errado. que eles tinham uma importancia e um compromisso a uma atuação “diretamente política” em relação aos espectadores, já que o teatro empresarial é determinado pela ideologia do sistema capitalista. mas por isso mesmo de estar operando dentro de um sistema capitalista certos pontos tem de ser cuidadosamente examinados. a liberdade do teatro não empresarial é bastante relativa, caso seus praticantes não tenham lucidez e conhecimento das formas de funcionamento do sistema. usamos o termo não empresarial como substituto de amador, termo com problemas de conotaçao e denotação, que o tornam pejorativo no vocabulário atual. aqui entramos num ponto que tem sido levantado para posições separatistas, cujo princípio regedor é ridículo. estabelece-se que a relação com o capital é determinante para distinguir qualitativamente o “ profissional” do “amador”. aceitar isso é propagá-lo é extremamente revelador das intenções de quem o faz. verdadeiramente fora do eixo rio-são paulo – e algumas vezes porto alegre, minas e brasília – não existe o teatro empresarial ou seja que cumpra além doutros compromissos, obrigações trabalhistas, inps, pis, fgts, e aquele catatau todo. funciona com cachês acertados por apresentação (raramente se remuneram ensaios), algumas vantagens pueris ou cooperativa – racha-se os lucros – que quase sempre são ínfimos. isso tem sido usado para desnivelar-se do teatro não empresarial (amador!) quer preconizando uma melhor qualidade de espetáculos, quer até para fins de encontro e discussão de interesses comuns (não é racine santos ?). tentativa, isto sim, amadora no pior sentido e de significado interessante: de antemão ser melhor do que os outros pela posse de capital. tsch, tsch! é preciso ver que posições radicais pendam para que lado forem não são elucidadivas e eficientes para resolução das questão. o teatro empresarial não é uma maldição. é preciso ver quem são os bruxos que o manipulam. seria ótimo que todos pudessemos nos manter do trabalho de teatro, que mal haveria? não fosse, como é, a manipulação de interesses. o teatro é um meio que pode estar a serviço de a ou b. acaso o oficina e o arena grupos dos quais ninguém discute suas posições políticas, não tiveram envolvimentos “graves” com o sistema empresarial? pode-se renegar o seu trabalho? é impossível a fuga radical de contatos com os elementos do sistema.e isso, é comporovável no dia a dia, não precisa leituras marcusianas. agora que, sob a chancela de utilizar o sistema, muitos tem sido utilizados, isso lá tem. aí reside um perigo para as federações e boa oportunidade para ver a habilidade política e administrativa da diretoria da federação – presidente, secretário, tesoureiro e conselho fiscal, esta é a formulação standard – (também da confenata).

a organização de um orgão de classe da classe teatral é bastante interessante sob diversos pontos de vista. inclusive político e sociológico. “ agrupando um nebulosa social, uma vez que os artistas e intelectuais não se constituem classe social, pois vivem a reboque dos extratos de classe média e imediatamente superiores, constituindo-se camada intermediária, jamais podendo ser ou foram classe particular, uma vez que não tem posição independente do sistema de produção. eis a raiz da sua contradição, a raiz econômica: pertencem a uma camada social intermediária de contornos e estrutura interna movediços, partilhando a sorte ambígua, contraditória e flutuante das classes médias. por isso mesmo tão marcados aqui e acolá por vicissitudes, ao realizarem um trabalho improdutivo, assalariado, mas não integrado ao modo de produção: constrangidos a elaborar e difundir uma ideologia destinada a perpetuar a exploração de que ele próprio é vítima – tal é o fundamento real, objetivo da consciência contraditória que o intelectual e os artistas formam de sua situação – burguês por sua função ideológica - é pequeno-burguês pela sua posição social e trabalhador assalariado pela sua situação ecônomica.” (kanapa , situation, pág 29).

como vimos e sentimos em nossas próprias peles não é fácil a situação da classe e de sua estruturação em tal movimento, tornando-se necessário alertar que, a não participação na confenata não implica na formação de um movimento estadual ou municipal, destinado a esclarecer e amparar uma minoria rumo a uma ação para si e a comunidade, despertando o “ homu politicus” adormecido no homem brasileiro. isso porque não é obrigatória e não será conseguida, uma representatividade dos anseios e interesses comuns quanto aos grupos atuantes do estado. e torna-se claro que alguns ficarão de for a por uma “seleção natural” quanto a ideologia orientadora de suas posições, cujo meio mais acurado para detectar tendências e coerências são seus próprios trabalhos. não é de modo algum impraticável uma federação que abrigue grupos não empresariais e empresariais. há federações que assim se constituem. isso dependerá, repetimos, dos critérios de quem manipula o meio. cabe ao movimento, mercado, suporte financeiro, de cada estado, implantar ou não uma profissionalização: sadia ou não. o fato do movimento empresarial existir , ou vir a existir, não determina a extinção do movimento não-empresarial, pelo contrário. caberá então a federação dar uma assistência precípua ao movimento não empresarial, cuidando para que os tratamentos de orgãos oficiais, e direta ou indiretamente ligados ao teatro não seja o mesmo dispensado ao movimento empresarial, por uma questão lógica. creio ser uma abertura sensata e democrática, e que evita o radicalismo de ambas as partes. pois não vai ser a separação simplesmente que determinará transformações. isso é miopía analítica e impotência política acentuada. as variáveis a serem trabalhadas são bem outras, principalmente na esfera de um sistema cultural. há grupos empresariais que são bem efetivos para isso.

assim sendo pode uma federação traçar programas de trabalho que atinjam todo o estado, contribuindo para a fomentação e aperfeiçoamento da técnica teatral, ideologicamente e tecnicamente. isso se existir um substrato cultural para tanto, que determinará maior ou menor grau de avanço, além do desejo espontâneo dos grupos de assim fazê-los, pois torna-se perigoso usar enzimas com organismos ainda não preparados. cursos, publicações, ciclo de leituras dirigidas, seminários, mostras elucidativas de teatro (com participação da platéia) são algumas das promoções mais usuais a cargo das federações. além de exame dos critérios para utilização dos teatros (grupos locais e visitantes), levantamento de locais de ensaios, campanhas junto a imprensa para a fomentação do gosto pelo teatro, questionamento da própria imprensa e sua atuação em assuntos de teatro e culturais, exame e revalidação dos programas de educação e cultura em teatro ao nível municipal, estadual e federal, criação de casas de espetáculos, publicações, intercâmbios, assistências médico-odontológica e uma série de serviços e atuações pertinentes a um orgão de classe atuante a depender de sua administração e seus filiados.

obviamente existe ainda uma série de tópicos – inclusive os de ordem legal para funcionamento da federação: estatutos, registro em cartório, registro do cgc e etc - e complexidades que devem ser considerados. mas isso parece-me tarefa dos de casa. minhas observações creio são válidas para a instauração de um processo de discussão, uma vez oriundas de quem sem envolvimento ou ranso nos litígios locais.e a experiência de uma federação que até então foi uma das mais difícéis de se instaurar plenamente. não deve-se criar uma federação por criar ou porque os demais estados estão na dança, acho. se constata-se a inviabilidade para tal criação, é bem melhor assumir esta falta de maturidade, ou outros motivos quaisquer, do que criar uma federação inoperante e arraigada de incertezas e ransos de origem pessoal. para isso nada melhor do que reunir todo mundo de casa que está ativamente envolvido e partir-se para uma debate franco o mais que possível e esclarecer-se as posições, respondendo pela responsabilidade de ser gente de teatro.

faria a última observação, lembrando a gramsci em sua dialética: “criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente, descobertas”originais”; significa, também e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, “socializá-las”, transformá-las, portanto em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. o fato de que o povo seja conduzido a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato “filosófico” bem mais importante do que a descoberta, por parte de um “ gênio filosófico”, de uma nova verdade que permaneça patrimônio de pequenos grupos intelectuais”. por falar nisso, a classe teatral do rio grande do norte já repensou um possível ato de jesiel figueiredo contra determinado grupo baiano que foi impedido de apresentar seu espetáculo (uma revista) aí ?

é meus filhos, política não se aprende na escola. “ o pensamento é um ensaio teatral”.

*celso muniz, 23 anos, pernambucano de recife. juntamente com tonico aguiar responsável pelo teatro piolim. jornalista, crítico, diretor e ator, com incursões em verso e música. além de bacharel em jornalismo, foi aluno do curso de música da escola de belas artes da universidade federal de pe., e fez estudos sobre ideologia nos meios de comunicação e sociologia da arte(teatro) no curso de mestrado do pimes da ufpe. ex-tesoureiro e atual presidente da federação de teatro de pernambuco(feteape).

(1) federações e representações que compôem atualmente a confenata:
fetema(federação de teatro do estado do maranhão)
fetierj(federação de teatro independente do est.do rio de janeiro)
festa(federação estadual de teatro do ceará)
fetemig(federação de teatro do est. de minas gerais)
fpta(federção paraibana de teatro amador)
fetadif( federação de teatro amador do distrito federal – brasilia)
feitag(federação independente de teatro amador do estado de goiás)
fetapa(federação de teatro amador do pará)
fetesc(federação de teatro do estado de santa catarina)
fetapi(federação de teatro amador do piauí)
fitap(federação independente de teatro amador do paraná)
fbta(federação bahiana de teatro amador)


publicado textualmente em a república(natal) no domingo 12 de março de 1978.
passado todo este tempo, não há como não dar algumas risadas com as siglas das federações a começar da fetapa, principalmente em se tratando de gente de teatro. outras, como a feteape, muito próximas da fetape, federação dos trabalhadores em agricultura do estado de pernambuco.
por outro lado, o uso da palavra radical repetida algumas vezes, no contexto de não sê-lo, como sinônimo de chamamento ao entendimento, é coisa que nunca mais fiz. até então(1978) nas minhas leituras não havia chegado a parte em que marx(fora de moda?) diz que ser radical é tomar as coisas pela raiz. portanto se quer resolver um problema não fique pelas folhas e frutos, tampouco pelas sementes. parta logo para a raiz do problema, quer dizer o radical, sendo-o ou não na acepção popular, que foi incutida pelos dominadores que nos fizeram “admirável gado novo” até hoje. mas cuidado: com certeza vão chamá-lo de radical. sabe como é, com aquele ar de ombros de que você é que é o causador de problemas. e não o solucionador ou pelo menos aquele que tenta.
contemporizar, radicalizo? é não solucionar. o que é deveras interessante para quem alimenta o problema. não? agora é você que está sendo” radical”.

joão bobo

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e não parou por ai, o joão bobo balança mas não cai, vide a "oficialização dos flanelinhas".




a violência no recife intra e extra muros, ou seja: periferia, desinteria e intrateria, nos confere o grau de metrópole aos níveis de rio, são paulo, cochambamba e washington dos bons tempos. pra quem não sabe washington já assinalou registros alarmantes de violência, a tal ponto de se dizer que o iraque hoje, mal comparando, seria pátio de convento.

a violência é tal qual marca de bala na parede e cicatriz de arma branca no bucho da incompetência dos governos federal, estadual e municipal de fazer o mais rastaqueiro policiamento, preventivo ou desinfetativo neste país. as únicas inciativas de montra são as transferências do fernandinho beira mar que anda colecionando souvenirs das carceiragens das policias federais estados a fora. se ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão qual seria a pena pra polícia que rouba polícia que roubava ladrão ?

no recife, ser assaltado é algo tão corriqueiro como cuspir na calçada. levar um tiro no semáforo, sinal ou farol, como queiram. já deixa em dúvida editores se vale quarto de primeira página, ainda mais agora facilitado pelas lombadas eletrônicas que chegam a chatear os assaltantes com o esforço mínimo necessário a abordagem: “ pô! num dá nem pra esquentar os músculos, é só pulegar nos tresoitão e tá feito. interceptação já vem desacelerada, nem precisa celerar com xutão na veia (traficantes andam chateados com isso também, excitings a menos neste segmento).

estupro? fascínoras andam colocando em prática o humor negro daquela piada do cúmulo da coincidencia: comer mulher grávida e acertar no cu do menino é praxe.

pernambucanidades à parte, a política de polícia no estado tem como chiado de microfones a ação de interlocução via secretário da defesa social que defende-se mais a sí do que aos cidadãos. o problema é que sua defesa seria cômica se não fosse trágica para a população. cada vez que joão braga, sim, o secretário, aparece para dar justificativas, o remédio traz tal quantidade de pacientes mortos que a bula da receita chega ao escárnio do cidadâo. e isto é ainda mais basófilia via cara do joão que trespassa o mais ralo senso comum com costuras que não seguram o coldre.

a última do braguinha foi alardear com mal um mês de implantação da lei sêca, fechamento de bares, “budegas” e biroscas em istmos de miséria no recife e olinda, das 23 as 6 horas. com aquela cara enfadonha e pouco afeita a intimidades com a câmara, joão diz que a lei já diz a que veio, atribuindo a queda de X9 para X4 homicídios o sucesso da iniciativa.

somadas a tiradas anteriores, a desconsideração do braga para com as variáveis diretas e indiretas é identica as suas costumeiras declarações onde destaca-se sua capacidade de negacear a realidade dos fatos com versões contra-balançadas pelo peso do cargo que ocupa, mais parecendo o joão bobo que pra frente pra trás oscila ao sabor dos vetores da força bruta da violência paroxística em que vivemos. e nisto não difere muito das demais autoridades responsáveis pela segurança pública no brasil quando tentar colocar cadeado em portão arrombado. gagueja tanto quanto gaguejava o garotinho, por exemplo quando ocupava o cargo, diante do indefensável estampido da realidade. só que garotinho tinha a rosinha, riso sem espinhas. joão, só o jarbas, cujas caras não adubam.

fosso outro o governo, e joão braga já teria sido exonerado. como não o foi, no caso, os joões bobos somos nós, cada vez que o vemos a dar explicações sobre as trapalhadas da inseguridade local. o pequeno probleminha é que quando levamos tiro decidamente não levantamos mais tal como aqueles” joaõs-bobos” vagabundinhos que quando furados não pegam mais remendos, cena muito parecida com a que se vê no hospital da restauração.

a política de segurança social no brasil não passa disso: de um grande e disforme remendo que as autoridades ficam remoendo, remoendo até não poder mais.

a coisa fede e já estoura em pus, diz o vento soprando os presuntos de quem já foi boneco.

(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com em 30 de dezembro de 2005 e no já extinto dulcora.blogspot.com)

in tempo: o bobo do joão bobo que não é nada bobo, agora está no pv. o que é isso companheiro? -

a idade da angústia

mercado da angústia de henri pradal. paz&terra,1979.199 págs. Cr$220,00.

a proposição de henri pradal é o estudo das razões da transformação da angústia de base do homem em sua trajetória na sociedade hodierna, tomando como motivo condutor a noção de mercado observando que cada vez mais a angústia pode ser considerada como expressão de uma nova poluição, como um sub-produto da sociedade industrial. pradal circunscreve o mercado quantificando a maneira de viver, conferindo ao homem uma dimensão econômica englobando a totalidade de nossos atos, de nossos desejos que nos impelem à ação, a maioria das nossas funções fisiológicas e a origem de elevada percentagem de nossas doenças. eis que o resultado é a supressão da angústia primitiva - eterna mola de ação - substituída por uma angústia falseada e patogênica, na medida que sua perspectiva é a demanda e a oferta do consumerismo rumo a coisificação a níveis infindos que prenunciam a aniquilação das verdadeiras possibilidades de ser humano, castrando-o a condição de mamífero em desuso, promovendo um verdadeiro assassinato social.

a medição dessa trajetória rumo a "anomia" é feita através do empreendimento médico e demais mitigantes, configurando-se o exercício da medicina e suas extensões através de técnicos instruídos a etiquetar males bem codificados, logo se atendo a disgnosticá-los e medicá-los segundo as regras curativas dominantes, mais interessadas em restabelecer - do que prevenir - incentivando a patogenia para cada vez mais escravizar o indivíduo reintroduzindo-o no mercado numa disponibilidade que em nenhum momento quesitone a origem e a consequência de taís síndromes. clínicos gerais, psiquiatras, psicólogos, psicanalistas, aliados a outras modalidades de programadores sociais, constituem o oficialato subalterno da corporação dos profissionais da angústia cada vez mais eficientes no manejo bisonho do gládio da psicoquímica. uma vez que a angústia produzida pela economia mercantil - ou por sugestão ou por sujeição - apresenta-se, ora como matéria prima, ora como manufaturado, é dela que tal organismo aufere seus maiores lucros. afinal, a angústia do homem foi deslocando-se dos mais variados niveis - inclusive da metafísica primitiva - para um só canal deferente, que advém não do que ele é ou deixa de ser, mas sim do que tem tem ou deixa de ter, possilitando hospedagem a uma angústia patológica que visa o achatamento da consciência e uma posterior supressão de qualquer pensamento conflitante.

o aparecimento do título de pradal é acolhido com simpatia de quem reconhece as boas inteções de um labor intelectual eivado de preocupações quanto ao aprofundamento de estudo e denúncia das relações de dominaçao. porém como o "inferno" - ou o mercado - está repleto de boas intenções, manuseá-lo com proveito exige bem mais do que julgam condizentes em sua missão resenhistas de beiço crítico.

a principal observação que se deve fazer ao trabalho de pradal são sobre suas pernas esguias e dispostas que entretanto parecem desconhecer a contextura da lama que as aguarda quando se pensa atingir a última camada do pano de fundo do charco histórico. devido a esse provável desconhecimento é que bambeia na consecução final do projeto, na questão da angústia, o importante não se resume a fisgada metodológica dela em sí mesma, mesmo enquanto origem e conseguências. o importante está em manusear o feixe ontológico sobre as sinapses da experiência negativa como enfatizou hegel.
o mergulho diagonal configura a inelasticidade teórica de pradal, de sorte que sua clareza torna-se ambígua, não lhe permitindo golpes mais contudentes no terreno da praxis político-filosófica, fazendo com que sua arrumação do tabuleiro deixe a desejar; ora aos não iniciados, pela manipulação de dispares conceitos e sua incompleta formulação, somados a utilização de um vocabulário erudito-clínico que desprezou - a julgar que o livro tomou forma a partir de cartas de milhares de angustiados - a possibilidade de um feed-back que não um ruído angustiante - e a depender do nível de leitura - onde o óbvio ficou oculto. aos iniciados, entretanto, transforma-se em excessiva retórica - onde os cuidados fisiológicos clínicos podem ocultar e/ou resultar eufemismos ideológicos - que apenas se superpôem ao mosaico de múltiplas leituras que, no autor, transparecem rarefeitas e miniminizam sua contribuição sobre a fabricação do controle social através da angústia, nos aparecendo a reboque de autores que resolveram tais questões de foma bem mais brilhante, talvez por se preocuparem menos com a sorte morfológica da angústia e optarem por uma penetração sem rodeios na questão social. tal comportamento se atribuído a sua formação médica (guia dos medicamentos mais usuais e os grandes medicamentos, também pela paz&terra) só faz confirmar o que escrito sobre o primado clínico na explicação do processo de supressão da angústia de base, descrevendo caracteres da tríade do psiquismo-corpo-ambiente, perdendo entretanto a rica oportunidade de reaparelhar os conceitos de excitabilidade e reatividade rumo a somatização à luz política, mais concreta para definir o estágio configurado da criação da angústia como sub-produto, causa e resultante do consumerismo, que imediatamente nos traz à lembrança lukács, transportando-se a reificação para tempos onde o organismo industrial aprimora eficientemente suas técnicas de eliminar o aguçar desta percepção e consequentemente, sue combate como forma de servidão humana. objetar que isso é opção metodológica (finca-pé-ideológico) é assinar o pobre compromisso de não recorrer explicitamente a conceitos chaves e passagens intelectuais pré-firmadas pela teoria marxista, instrumental inegavelmente mais rico e mais preciso para a consecução do tema, quando seu instrumental é tão mais dispendioso e menos configurante. é como recorrer a picadas múltiplas e redundantes - encurtanto isso sim a compreensão formativa - quando já se as tinha abertas.

em consequência dos canais narrativos usados por henri pradal, a ressonância maior da questão da angústia torna-se um descompasso a iniciantes que não conseguem projetar uma sáida de seu quase labirinto de construções pois, sem imaginação sociológica prontamente referenciáveis é certo que engrolarão suas expectativas. é que pradal esbanja morfologia, mas falta-lhe a síntese que o faz parecer repetitivo de gurus bem mais " carismáticos", ilusoriamente projetando-se como ímpar. o decifra-me ou devoro-te na deslocação do eixo da angústia do óbvio oculto para o oculto óbvio está no fato de que na supressão da angústia primitiva implica na neutralização de uma capacidade mental que hoje mais do que nunca corre dia-a-dia o perigo de ser obliterada que é o poder do pensamento negativo, leit-motiv da herbert marcuse em razão e revolução. aqui está o porque da nossa vigilância a prada: é que ele denuncia o que está na ponta do iceberg, insinuando que por sua forma a base tem que ser bem maior, enquanto uma exposição desfraldada ao lume da teoria marxista explicita a base deste iceberg, possibilitando, mesmo a quem não enxerga a ponta do mesmo, fazer projeções sobre métodos - não importando os custos - são usados porque aqueles que através do controle social se querem perpetuamente ápices, manuseando a angústia coletiva - uns contra os outros - para que lá permanceçam os que lá já estão. por isso o paroxismo da angústia. este é básico para a manutenção da estrutura piramidal.(continua)

originalmente publicado no diário de pernambuco, no panorama literário, em 22 de agosto de 1980.

pau na moleira do alberto dines



o sectarismo do observatório da imprensa anda produzindo das suas.

dia destes, foi a marinilda carvalho, ao produzir peidorrada chinfrim, em estado de choque contumaz. destrinchou, com verve transmudante, um falso viés que não faz nem cosquinhas na game generation, target heavy user do comercial comentado. mas reconheçamos, com que empáfia a senhora cagou regras no bidê — ver post, marinilda já foi nome de vedete, em 17/10/2005 publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com

agora, dines, mal do fígado, perde as estribeiras e valorosidade ao produzir corte epistemológico fundado numa visão deontológica que confirma não só o padecimento de mosquetadice como a pratica da auto-blefarrorafia, ao terçar armas com autoridade e o azedume costumeiro dos decanos com disopia. e, com tal fúria, que resulta bisultriz.

seu clamor esbarra numa vexamosa visão de paralaxe, sendo ele figura do batente: não são publicitários, tampouco os do departamento de criação, nem os da “ arte do jornal” , que diagramam o mesmo. portanto, a pirueta publicitária o é jornalística tão-somente. não há menor cumplicidade no caso, muito menos intenção de autor.

constantemente a criação assiste, de mão amarradas, a tais“ barrigas”. típicas e referenciais da falta de sensibilidade, leia-se da falta de cuidado e responsabilidade profissional mesmo, capaz de fazer as mais inverossímeis combinações com “base na aleatoridade”. deixando clientes e agência, mais do que os leitores, que não sabemos se subliminarmente fazem a associação ou não, de olhos esbugalhados. o que, convenhamos, não é, nem nunca foi o objetivo fulcral do anúncio.

as direções comerciais dos jornais, day after, apresentam desculpas, incluindo as da redação. e, no máximo, oferecem reposição, quando deviam ser processados criminalmente. pois o dano, algumas vezes, é irreparável. bons tempos então, em que secretários de redação impediam disparates como estes, esporrando em alto e bom som cagaço dado nos envolvidos. quando não pontapeteando-os bunda a fora. mas não se fazem jornalistas como antigamente, nisto estamos de acordo, não senhor dines? publicitários idem ?

pasmo fico muito mais com o foco dado por ele e o vocabulário retrô que inclui “bagunça, a nova bossa, exdrúxulas colocações e formatos, surtos de invencionice, e a “ aula” dos anúncios arrumados(sic!) nos cantos das páginas, pares, no lado esquerdo, ímpares, do lado direito, e a citação às “ pirâmides”. o que nos leva a constatar que o rei alberto confunde, tal como o observatório, sisudice com seriedade – característica maior na corrente de produção dos textos, formatados quase que “acadêmicamente” - obtusidade com objetividade, imobilismo com pragmatismo, informalidade com falta de estilo, descontração com falta de educação, originalidade com porra louquice, moderno com modernoso e , acima de tudo, conservadorismo com sinônimo de jornalismo responsável. o que é carnicão de mal muito maior. e que não gostaríamos de imaginar tomando-lhe o corpo da mente, apesar do reacionarismo escarrado à fogo e o apego patomaníaco a regras em desuso – não se trata de culpa de quem - enfeixados no seu parti pris.

jornalistas manifestarem uma eterna dor de corno por publicitários é fato que não merece nem terceiro caderno. conflitos entre redação e comercial, extensão da agência ? já fizeram muitas altas e baixas no ofício. a estupidez avia a maioria dos parágrafos que abordam o assunto. e as farpas, acabam por cravarem-se nas mãos de quem as manejam. principalmente daqueles que enxergam a publicidade como profanação do espaço editorial. como se a decência e integridade do jornalismo, para não dizer da eficiência, estivesse na salvaguarda do maior espaço para editoração, arrumadinho, bem arrumadinho, segundo alberto. espaço que quando se encolhe para anúncios, obedece e sustenta-se nas vigas de tabelas nascituramente pensadas para ceder. e que não foram fruto, decididamente, de nenhuma pirueta ou invencionice publicitária.

se é pulhice dizer que o jornalismo quanto mais saudável o é quanto mais saudável forem as suas finanças, também isto não foi gag de publicitário. talvez, sim de jornalista. mal resolvido.

deontologiamente aflora sempre o maniqueizamento da publicidade quando a coisa vai mal na redação. responsável, quase senso comum, pela debilidade jornalística que abateu-se período pós didatura, onde compromisssos com o regime endividaram-no “para sempre”. isto posto, o jornalismo é tão mais puro quanto menos publicidade houver(sic!), como se não houvesse um consentimento prévio dos jornais em fazerem-se vendidos por algo bem mais grave do que centímetros por colunas que sacrificam até a primeira página, vergonha mór, para alguns, ó tempos, ó costumes.

como jornalista e publicitário, não necessariamente nesta ordem, vivi as duas questões dentro e fora da redação. muito mais graves em mercados onde os jornais de tiragem diminutas, e tendo como esteio a publicidade oficial, fazem do coração tripas. principalmente em mercados onde as igrejinhas do jornalismo são prepósteras a defesa da integridade dos mesmos. apelando, ainda hoje, para o entreguismo de cabeças não genuflexórias.

nada mais velho do que um jornal de hoje, hoje. nada mais velho do que um jornal de ontem, ontem. o que por sí só é significativo dos novos tempos. construir barricadas em nome de um jornalismo probo, com base na refutação de formatação de diagramação não conservadora, é tornar-se réu confesso da incompetência de gerir um ferramental que oferece um sem-número de possibilidades e, sobretudo, a ampliação da percepção visual de uma nova geração de leitores que contradiz certos paramêtros de facilitação da leitura, cujas coordenadas espaço-temporais são objeto de estudo da neurologia avançada.

recusar a ver que com inteligência tudo, ou quase tudo, é permitido, inclusive no âmbito das relações comercial-redação é padecer do jamais vu. mortal para jornalistas de qualquer idade.

portanto, pau na moleira do alberto dines. aliás, na moleira não: pau na bunda mesmo. e não se trata aqui de exercer o oportunismo como procaz a busca de aparição iconoclasta. mas sim, de aprender – ainda é tempo – a não ser, de mestre tão loquaz, do bundão, a dita cuja.

(originalmente publicado no já extinto dulcora.blogspot.com, em 14/09/2006)

um novo BBB

Resultado de imagem para congresso nacional
somos nós que pagamos por isso


b de bagdá também é b de brasil ao deus dará. só que o b daqui é b de pais bunda - e não da bunda - apesar de tomarmos nela, com o b de bushices, já não bastasse a canalhice interna de um congresso que faz convocação extraordinária para decidir o que devia ser decidido sem prorrogações, e recebe triplicado para não aparecer - só para receber - e ainda prometendo não receber ou dar parte do salário extra para instituições teoricamente necessitadas, dá-nos calote duplo.

mas o brasil, com sua população na maioria com cara de bunda - se não é maioria porque isso tudo acontece ? a discutir se apareceu ou não o pirilau de um sujeito no BBB.
é este o retrato da nossa indignação. ver um pirilau " fora do lugar ". por quê ? porque já nos acostumamos com ele noutro lugar ?
depois não quer ser tratado como um paísinho bunda.
supositórios não resolvem mais nossa indigência devidamente analisada.

(originalmente publicado no cemgrauscelsius.blogspot.com em 16 de janeiro de 2006 e no já extinto dulcora.blogspot.com)