segunda-feira, 16 de setembro de 2024

pinxinguinha: um projeto carinhoso para alguns e sufocante para o resto?



“reduzir uma sociedade de 100 milhões de pessoas a um mercado de 25 milhões, exige um processo cultural muito intenso e sofisticado. é preciso embrutecer esta sociedade de forma que só se consegue com o refinamento dos meios de comunicação, dos meios de publicidade, com um certo paisagismo urbano que disfarça a favela, que esconde as coisas”. oduvaldo viana filho, 1974, pouco antes do seu falecimento.

as subvenções estariam domesticando e paulatinamente enterrando a cultura nacional ?

esta é a pergunta que muito se tem feito ultimamente. de críticos da cultura a políticos, de provocadores a setores da própria classe artística, preocupada com o derrame subvencionista para feitura de confeitados pacotes culturais, servidos à guisa de fartura e cardápio mas na verdade prato único de um regime imposto a nortes/sul/leste/oeste deste país.

o projeto pinxinguinha já deixou o aeroporto dos arrecifes velejando numa maré mansa financiada pelo banco do brasil até a foz do amazonas. em nossa cidade foi efusivamente saudado com os chiliques do já era tempo, finalmente lembraram-se de nós, pois dos cajús as cirandas nós também somos amantes da cultura. lado a lado, bom caldo de páginas descritivas e manchetes vistosas aos “ são os artistas do sul que vêm “. as cartas à redação registraram afluência dos ótimos, maravilhosos, sou macaca da marlene, muxoxos ao simone´s gay club e protestos de algum tinhorão da terra contra os arranjos dos grupos acompanhantes. contudo, nenhuma preocupação de um comentário vertical sobre os aspectos formais e conteudísticos ou das “bençãos” que determinaram a vinda do pixnguinha e outros artefatos. nenhuma especulação quanto às consequências da invasão dessas troupes no espaço artístico/cultural do recife, província que luta para esconder – e não eliminar – as consequências de seu complexo de “sub” querendo ser “ super”. recebidos todos foram com salamaleques de quem já, eunucos, afeiçoados a paternalismos adocicados em meio a muitas laboradas. questões da hospitalidade gilbertiniana ?

a platéia recifense – e não os “meninos” da cidade – acostumados com outro gosto, deliciou-se com três meses de pirulitos musicais. mais nada. nada mesmo além de reclamações inconsequentes sobre apertos e beliscões. o projeto merecia maior atenção, a nível macro e micro analítico, para uma degustação crítica como mandam os bons preceitos da biótica.

a atitude de democratização da cultura muitas vezes tem sido desastrosa sob o ponto-de-vista cultural/artístico e socialmente tem levado a um obscurantismo e alienação cada vez maior. daí a preocupação que tem a ver com o perigo iminente da maior intoxicação de um público/povo confuso pelo regime dietético imposto, com uma cozinha cultural sem pratos da casa (afinal um pouco de terra no “mousse” de quem não tem feijão com arroz, não faz mal pra ninguém: aliás, é até bom pra garganta).

esses pratos, quando não substituidos por guloseimas alienígenas – com suas consequentes cáries, cirroses e acefalias – são refogados por um tempero ditado por uma receita ideológica que adultera o sabor da feijoada geral brasileira que há muito saiu dos panelões de barro para as panelas de pressão das multinacionais. esse desacerto intelectual/intestinal intencional leva a inversão dos movimentos peristálticos consequência do empaxamento – daqueles que comem – burguesia e classe média e ao esvaziamento cada vez maior no ventre de nossa necessidades básicas cujo ronco da pança é abafado por bandas musicais quando não marciais. esse regime forçado contribuiu cada vez mais para um distanciamento dos caracteres gustativos culturais pertinentes a aproximadamente 80% dos brasileiros. o distanciamento/esquecimento é feito através de uma política cultural (entremeio de uma política global) que com maestria e pérfido critério renega essa população maior que deveria ser tomada como objetivo a partir de suas necessidades estomacais/culturais. necessidades estas gritantes, mas abafadas por guitarras e “baterias” afiadas que camuflam a miséria, concentrando-se em extratos da população financeiramente ativos e interessados na manutenção do “ status quo”, enquanto que a maioria produtiva fica a ouvir o canto das sereias e algum xaxado aqui e acolá num arrastado a caminho da solapação geral.

na verdade o projeto pixinguinha trouxe alguns bons momentos em meio a uma programação bastante irregular. mas esse “ bombom” é muito relativo e cômodo confrontado às condições atuais da sociedade brasileira e do entranhamento de suas relações. é o caso de pensar que “ coisa oferecida ou tá podre ou tá ardida “, principalmente quando gerido a nossa revelia e de maneira muito mais eficaz para o desinchamento de alguns reclamos e conservação da boa fé de quem “ingenuamente” satisfaz-se com tão pouco em meio a muita falta de tudo. torna-se portanto necessária a especulação e a divulgação de certos fatos encolhidos tentanto a visualização do mosaico por inteiro, incluisive fazendo sentir que paliativos e migalhas são questionados não por mera contestação,e sim, porque demos falta do naco maior surrupiado.

o projeto pinxinguinha é parte de um conjunto de medida identificadas com a politica naciona de cultura, através do qual o estado vem desde 1964 desenvolvendo uma vasta e complexa organização cultural que permeia o conjunto da sociedade civil em suas instituições, grupos e classes sociais.

o início da década de 70 marcou o arranque definitivo para o investimento maciço em capital humano (educação) e nas extensões do projeto. nas universidades procurou-se modernizar o ensino, isto é, torná-lo eficaz e econômico segundo as exigências do modêlo econômico vigente, despolitizando as atividades de professores e alunos, numa produção massiva de tecnocratas visando uma massificação e não a emancipação, através de um ensino que torna o aprendiz dependente e sem capacidade crítica(ver manfredo berger, educação e dependência, difel/ufrgSI, 1976). nas extensões do projeto se tratou de despertar à atenção do brasileiro para a cultura (esportes também), mas evidentemente para a chamada cultura oficial, cujas manifestações tem o toque do comportamento extremamente interessante ao binômio segurança e desenvolvimento.

seguindo estes moldes iniciou-se dentro dos cânones estabelecidos o incentivo ao faça você mesmo arte, com manuais e proposições de linhas estéticas para um retorno absoluto ao l ´art pou l árt , como bricolage (trabalho feito em casa como lazer). desde as “inofensivas” aulas de educação artística que descaracterizam os aspectos sociais e universais principalmente de uma criatividade que possa vir a ser inflamável, dando, da aula ao recreio, a visão de arte como puro brinquedo e/ou terapia, confundindo o significado e alcance político da mesma desde cedo, além de toda sorte de tentativas de dissociar o artista do cidadão em seu papel indivisível na formação da cultura, procurando conflitar a verdadeira função da arte na sociedade.

nessa reformulação também se procurou modificar a política de atuação de orgãos públicos relativos às artes, ciência, pesquisa e divulgação de informações e conhecimentos. o ministério da educação e cultura inflou-se com orgãos que balizam agora aspectos básicos das condições de produção e debate cultural no país. conselho federal de educação, fundação nacional de arte(funarte), serviço nacional de teatro, empresa brasileira de filmes, conselho nacional de folclore, entre outros.

a este respeito pode ser agumentado, e aceito até certo ponto, que alguns desses orgãos, como o SNT, por exemplo, realizam até hoje um serviço onde antes o abandono era geral, inclusive por questões de quem em sua direção pertencer a classe artística ou portadores de sorriso liberais. mas o exemplo de “patética, de joão ribeiro chaves netto, premiada pelo SNT, por uma comissão determinada pelo orgão, no concurso de dramaturgia de caráter nacional que teve os originais “sumidos” pela polícia federal bem como o decretado cancelamento do prêmio é patético, não deixa alternativas. desentendimentos entre o ministério da educação e ministério da justiça? não. apenas que na hora do pega pra capá, “liberais”, “sensíveis”, e tentativas – bem sucedidas algumas vezes, aceito – de fazer um trabalho paralelo acordam em brasa.

octávio ianni (in o estado e a organização da cultura, encontros com a civilização brasileira nº1) fala acerca de uma produção cultural a três niveis: incentivada oficialmente; tolerada (com sarrafões, o grifo é meu) e proibida. ambas a duas como diria o bom filósofo trazem o carimbo do DCDP/PF*, a outra, “ tatuagens”. essa permissão quando não ludibriada pela inteligência de alguns e agora, a rara burrice dos censores, transforma-se de uma burocracia intencionalmente montada em tartarugas, a passos de relâmpagos (capitão marvel nunca enganou ninguém) desde que o produto, obedecendo a ordem do dia, trate de valorizar, revelar, ou desenvolver, a “cultura brasileira”, a “memória nacional” , os “valores culturais brasileiros”. nesse sentido todos apoiam a circulação e o consumo de artesanato, folclore, literatura, teatro, cinema, artes plásticas e o escambau, numa pseudo-abertura verificada nas formulações correntes ou nos discursos dos governantes e seus porta vozes. mesmo assim há o trato distinto para o “patrimônio histórico e científico”, denominação dada ao patrimônio dos dominantes, ao passo que o dos subalternos é “ artesanal e folclórico”. mas o povo existe apesar do povo. porém, quando o paternalismo ataca, esse artesanato e folclore, sofrem mordiscadas devastadoras. quem já viu um folguedo popular em seu habitat de origem e assistiu o mesmo transportado para a casa da cultura, por exemplo ? os tentáculos são infalíveis. sob a aura de prestigiar os valôres autênticos, esclarecer a classe média, contribuir para a melhoria soció-econômica daquele que “brinca”, através de um cachê que não resolve problemas crônicos, se exerce o contrôle da criação popular incutindo-lhe freios, que vão desde o corte do picante – a moral como qualquer outra forma de ideologia tem um caráter de classe – a fazê-los traduzir valores dominantes por sua bôca dominada. quem viu um facêta numa e noutra apresentação pode calcular quanto seus lábios estariam amargurados.

muitos desavisados (até quando meus filhos?) entreolham-se ensimesmados perguntando-se, se assim fosse, porque haveria de ser trazido tantos eventos, trazendo inclusive cantores malcriados como o gonzaguinha? realmente, isso leva a destrambelhar o raciociocínio de quem mais audaz. mas não há bem perfeito que não mate e vice-versa. e vem justamente daí , a depender da inteligência de quem envolvido, a possibilidade de uma vez “permitido” , de estabelecer uma meta-comunicação ou um trabalho inverso como queiram, desvencilhando-se de outros perfumes e dando o recado. porém tudo não é tão simples como parece.

no opinião 277 (quando circulava) josé castello branco nos fala da percepção por parte de estado da necessidade da “criação da cultura nacional”, da tradição cultural. o rosto cultural de um país como um deus criando uma natureza a sua imagem e semelhança, para que lhe dê credibilidade, “consistência”, para que lhe dê um ambiente “natural”, para que não possa transparecer a verdadeira realidade como nos fala vianinha no intróito desse artigo. como também nos falam chico buarque e ruy guerra conforme a metáfora do personagem criado. calabar é um assunto encerrado. porque o que importa não é a verdade intrínseca das coisas. mas a maneira como elas vão ser contadas ao povo. e quem disser o contrário é comunista e fim. vai se haver com o estado. como é que pode ?

por isso o pinxinguinha está aí. os mambembes estão aí, inclusive inseridos, aqui e acolá, por descuido ou sabe-se lá por quê, com alguns irriquietos membros da classe artística brasileira. mas o mais inquietante, o discurso – agora discursivo – musical do gonzaguinha, fotografia muitas vezes bem tirada, ou o original em terceira dimensão ? a arte se nos aparece como meio de pensar a realidade. por mais objetiva e contundente tem uma “direticidade” indireta na medida que colhe do real. é meio e não fim. e só um processo didático muito intenso pode torná-la, numa sociedade de massa e informações camuflada, contudente. questão de código.

além disso, o marketing também tem produzido seus artigos inflamáveis e o próprio sistema desenvolveu com mais eficácia sua antropofagiazinha com uma estratégia sutil – ou se não na porrada! – e sistemática eficiente de arregimentação, contrôle e re-arranjo dos “explosivos”, toleráveis que convém estar perto. nada mais cômodo tê-los por perto para um possível caso de incêndio. uma luta frontal com dragões só aumenta em dôbro a sua força. não se pode deixar o fio esticar, é um princípio fundamental. isso é o famoso banho-maria. quem aguenta um tempo acostuma-se com o calor da panela e estabelece um equilíbrio desejável até que o processo inevitável da história faça suas mutações. para quem estava lá em cima foi bom enquanto durou. embaixo o buraco e outro.

cr$ 1 milhão foram investidos por parte das autoridades locais em hospedagem e alimentação— e esses teatros totalmente desaparelhados ? além do desvêlo incomum de acompanhar pessoalmente o desenrolar dos shows e inclusive impedir aproximações indesejáveis, missão cumprida com eficácia por um dos funcionários do departamento de cultura para lá destacado. ah! se fosse.show daqui.aliás, show local é coisa de moleque, bicha, maconheiro e comunista. já criou-se o consenso geral. é necessário urgentemente por parte dos artistas maior atenção e uma ação com muito maior responsabilidade quanto a seus trabalhos. o ciclo vicioso está instaurado. não se tem bom movimento porque a qualidade-quantidade artística é ruim. a qualidade artística é ruim porque havendo pouco público provoca a emigração e desinteresse. a questão é complicada e extrapola a nossos domínios. mais uma consequência da dominação cultural, que inclusive já norteia padrões estéticos não consonantes com a realidade econômico-social pernambucana. o santo de casa que não faz milagre não é uma questão só de provérbio, apesar do karma do recife, que carlos penna filho já constatava ao afirmar: recife é uma cidade escorpião. mata aqueles que a amam. que o digam alceu valença, robertinho do recife, e outros tantos.

até que ponto a quebra do hiato cultural com um direcionamento one way contribuiria para a abertura de mentes e espírito? ou, isso sim, traz três meses de maciça dosagem destrambelhando o espaço cultural e físico, solidificando cada vez mais características explícitas de dominação cultural apoiado por financiamento e regras específicas de atuação. três meses de festança, com marcas deixadas para um período de nove. considerando-se unicamente para efeito deste tópico as “ boas intenções”, que rebento este período de gestão jejuado fará nascer ? e os filhos não tão pródigos assim? que será deles ?

a cultura é notório é um dos mais eficientes aparatos ideológicos do estado para conservação dos seus valores no bojo de suas manifestações programadas , sementes adubadas de difusão e legitimação das normas políticas vigentes.

de qualquer maneira mesmo armados de boas intenções a eficácia e os critérios de tais projetos em relação ao que aparentemente se propôem tem uma objetivação defeituosa e frágil.

a partir do próprio critério de participação dos intérpretes e músicos que recebem razoáveis salários. só são convocados os do eixo centro-sul sob a alegação de mesclar um cantor em evidência a um em decadência, o que evidentemente não ocorreu em recife, palco de evidências e decadências e toda sorte de combinações. lá entre eles o processo de escolha gerou quipropós pois um projeto que paga razoáveis salários faz pressupor que o “ carinho” só para os amigos, porque é óbvio que o “pinxinguinha” não é nenhum exército da salvação. o direcionamento do pinxinguinha tem um só sentido. só vem, não vai, como de hábito. por cr$ 15,00 as 18.30 e cr$ 120,00 ou cr$ 60,00 as 21 horas a dominação é a mesma com apenas ligeira alteração do horário, grande no preço, o que não acontece com o público pois. afinal, não é crime mandar o chofer comprar o ingresso e depois comparecer. um pouco de populismo não faz a ninguém e é coisa também de gente bem.

na verdade, o projeto alcança a um novo extrato sem oportunidade de ir ao teatro, isso em termos concretos, ou continua abrindo(abrigando) por cr$15,00 o mesmo beautiful people costumeiro, também verificado em maioria nas apresentações do teatro do parque ?

os músicos que compôem o projeto não fazem parte nem de um grupo dito progressivo dentro da música popular brasileira, representando uma faixa comportada ou dentro dos cânones permitidos de malcriação. aliás por muito menos ivan lins, que deveria abrir o projeto com nana caymi em virtude de uma única apresentação paralela na universidade da bahia quando o projeto lá se passava foi afastado do mesmo e há quem diga que o projeto quase acaba. o que é bom para o teatro não é bom para a universidade, constata-se. isso teria inclusive gerado a proibição, no período, de shows de alta combustão no planalto.

a questão não valida o caráter inflamatório do pinxinguinha, porque além do fato dessa possibilidade ser afastada, muito embora tenhamos em alguns estados noites quentes, não estamos precisando na verdade de inflamação e sim de esclarecimento, pois nossa inflamação passou de vermelhidão a pustemação e quase nos faz perder a cabeça.

outra questão que me parece interessante é a da possibilidade de em meio a determinados envoltórios se conseguir superar o ditame da forma para embalar o conteúdo numa incomoda/ação para balanço da platéia. veja-se balanço como balanço e não pulinhos. seria como um distanciamento teatral, contudo com características de fazer percerber de maneira clara as nossas contradições e a razão maior de nosso discurso musical/teatral. a questão me incomoda tanto como articulista, como compositor e homem de teatro. é claro que esta questão “ estranha” não pode ser desenvolvida aqui tal a sua envergadura e profundidade que abarca desde a abordagem filosófico/estética de eco, a discussão da produção cultural no sistema capitalista, matéria deveras prolixa a qual não domino. mas ela possibilita levantar mais alguns pontos em relação a performance do pixinguinha.

os discursos estariam se tornando discursivos, o marketing vem produzindo inflamados revolucionários e a repetitividade /redundância de mensagens no jogo incerto da falta de informações diminui o poder de impacto dos recados junto aos sentidos adormecidos pela catequese e por falsos rebates festivos. pergunta-se se o fato de um gonzaguinha – aqui tomado como exemplo mais facilmente reconhecido – vir acoplaldo ao projeto, a seu modo irrequieto e denunciador não seria fato relevante para a formação de uma consciência coletiva ? qual a consciência coletiva do brasileiro ? mais aberta a denúncias ou extro-determinada guiada para os valores dominantes, principalmente o público do pixinguinha ? se fosse o caso de desprezar o aqui já levantado sobre posição da arte como meio e nao fim, teríamos de considerar que em termos de sacudidela da platéia um walter franco, um hermeto paschoal, são muito mais políticos e eficientes insurgindo-se contra uma estética política que já cria seus cânones para não ser criticada. o sistema já se permite folgas o que não significa que haja abertura. neste sentido diz-se que o caráter experimentador virá no projeto vitrines que mesclará um cantor de renome a um novato, o que não significa que ele seja novo. além disso, dentro desse prisma mesmo os experimentadores natos podem cair na redundância/repetitividade, caso do “ faquir da dor”, macalé, que assumiu posições incontestes, como o desafio ao público no festival internacional da canção, em 1969, com gothan city. macalé também veio pelo projeto repetindo um mesmo trabalho, apresentado anteriormente três vezes – nessa cidade. macalé já está sendo incorporado. a metamorfose tem de ser constante para eficácia senão e rapidamente incorporada, que o diga raul seixas que “ parou no dia em que a terra parou”.

os artistas da terra ficam numa situação anacrônica. sem financiamento não podem reduzir os custos da produção para melhor operacionalizar suas apresentações, tendo por concorrentes, simones, marlenes, vergueiros, etc, acessíveis aos cr$ 15,00. mas estes mesmo cr$15,00 podem ser pagos por que extrato da população ? evidentemente não é quem ganha salário mínimo, se fosse o caso do projeto ser voltado para outros extratos que não classe média em potencial. com referência a essa mesma classe média, nossas bilheterias já estão registrando as interferências do pixinguinha, principalmente sem o aparato publicitário do mesmo. ou o movimento é tão ruim de qualidade mesmo ?

resta a questão entre muitas outras questões de uma vez tão políticos que fazer certos membros da classe artística envolvidos nessa e noutros ? afora os produtos de marketing há que se ver que mais que nunca não se pode perder terreno e tem de estar de dentro correndo o risco de ser muito mais utilizado do que utilizar. a questão dos artistas tem na sua contradição a raiz econômica, o que explica de maneira singular, kanapa in situation:” vivendo em uma sociedade contraditória, realizando um trabalho improdutivo/produtivo, assalariado, mas não integrado ao modo de produção capitalista, constrangido a elaborar e difundir uma ideologia destinada a perpetuar a exploração de que ele próprio é vítima “. é, é esse vício de comer que nos mata.

obviamente o quadro aqui traçado corre o risco da abordagem simples de quem incompetente – podem guardar a afirmação para a réplica – mas, como farinha pouca, nosso pirão primeiro, ericei os cornos e entrei na dança.

com a palavra os sociólogos, e como diz febvre, “ apliquemos o bom método compliquemos o que parece bem simples “.

p.s. escrito num dia em que a “feijoada” estava cheirando.

* departamento de censura às diversões públicas da polícia federal (no original publicamos apenas a sigla, já que era mais conhecida à epoca do que mcdonald´s)


in debate, cultura em pernambuco, publicado no jornal do commércio, no domingo, 1 de outubro de 1978. artigo de página, na contra-capa do caderno C, apresentando celso muniz como jornalista e ator de teatro. o que na verdade eu era.

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