“…. dessa gente oscilante, instável, e curiosa, que são os intelectuais e os artistas em particular. gente que, no fim de contas, é o sal da terra.”
a controvérsia sobre a participação ou não, do estado do rio grande do norte como unidade federada junto ao movimento de teatro não empresarial da confenata (confederação nacional de teatro amador) está instalada. diria até, com sensata medida, que o brasil, ou sejam, as federações dos demais estados(1) aguardam a resolução por parte dos grupos atuantes no rio grande do norte, face ao seu movimento ser razoável, quer em questões de qualidade, quer em questões de continuidade, fruto do trabalho dos grupos da capital e do interior (mossoró, etc). criar ou não? uma federação que congregue os grupos de teatro para que o rio grande do norte tenha uma representatividade oficial: eis a questão. os do contra, como em todo brasil – afirmação constatada em passagem por diversos estados – baseiam maior parte das vezes seu “ posicionamento “ levantando questões que denunciam uma coerência: imensa preguiça braçal e intelectua ou no máximo não procurar sarna pra se coçar. a questão e posições da federação e a própria confenata merecem ao menos considerações que deveria resultar de um encontro onde proficuamente fossem analisadas as arestas da questão. mas, eis um problema maior: encontro de gente de teatro. o rio grande do norte não fica atrás e não foge à regra. os “ espécimens diretores” são muito arredios a tal prática. enfurnam-se em seus círculos grupais, nos quais são colonizadores e reis dos seus recados existenciais e intelectuais. talvez por isso, a confederação em seu programa político modelo para 1978, recomende ao máxima a descentralização, procurando fazer com que as bases sejam atingidas e ouvidas, elementos que verdadeiramente podem operar mudanças, evitando-se assim deslocamentos de cima para baixo, que refletem um direcionamento exclusivo dos diretores, condução elitesca de quem tem maior acesso a informações e as manipula e que, constantemente, são pegos em extremo individualismo estéril que apenas reflete profunda mesquinheza camuflada sob um processo de auto-defesa.
é evidente que uma federação não é panacéia para os problemas emergentes do teatro e seus praticantes. é preciso primeiro detectar em cada comunidade seus próprios problemas e meios de solucionar questões, para que se chegue a uma estrutura de organização eficiente. a experiência mostra que uma organização em moldes administrativos razoavelmente direcionada contribui para operar uma união entre os “porcos-espinho” – que durante a neve, embora ferindo-se , aquecem-se roçando-se uns aos outros – o que além de “socializá-los” democraticamente podem furar um bloqueio “burocrático” imposto ao teatro. e, se conseguir aliar ao processo administrativo um processo politico que desencadeie um exame –e re-exames! – das manifestações teatrais, sua receptividade e seu relacionamento com a comunidade “piloto” de atuação, quer sob o ponto de vista estético, econômico e ideológico – que é o determinante – é de saudar-se com satisfação tal movimento – que acham carlos fortaso, tarcisio gurgel e o pessoal do amai ? - . creio que já aí se encerra um bom motivo para um primeiro encopp 1 1 simntro rumo a. é claro que, devido a falta de prática, o próprio clima dos primeiros encontros não será amigável. é o início – ou podem haver surprêsas – a própria confederação tem seus problemas devido a ala radical e seu presidente tácito freire borralho, bem intencionado, mas que tem cometido equívocos, ora por movimentos passionais, ora pelo desejo de acertar apressadamente sendo enzima do processo. mas a confenata vem paulatinamente se organizando.
muito embora eu participe de tal movimento, acho necessário um exame dos prós e contras da questão. é muito recente tal movimento. sua origem merece questionamento. é significativo que esse movimento tenha sido desencadeado verticalmente. primeiro porque os grupos nos estados não sentiram necessidade de se unirem em um orgão de classe. segundo, que alguém tivesse que dizer aos praticantes de teatro não empresarial que estes estavam pegando o bonde errado. que eles tinham uma importancia e um compromisso a uma atuação “diretamente política” em relação aos espectadores, já que o teatro empresarial é determinado pela ideologia do sistema capitalista. mas por isso mesmo de estar operando dentro de um sistema capitalista certos pontos tem de ser cuidadosamente examinados. a liberdade do teatro não empresarial é bastante relativa, caso seus praticantes não tenham lucidez e conhecimento das formas de funcionamento do sistema. usamos o termo não empresarial como substituto de amador, termo com problemas de conotaçao e denotação, que o tornam pejorativo no vocabulário atual. aqui entramos num ponto que tem sido levantado para posições separatistas, cujo princípio regedor é ridículo. estabelece-se que a relação com o capital é determinante para distinguir qualitativamente o “ profissional” do “amador”. aceitar isso é propagá-lo é extremamente revelador das intenções de quem o faz. verdadeiramente fora do eixo rio-são paulo – e algumas vezes porto alegre, minas e brasília – não existe o teatro empresarial ou seja que cumpra além doutros compromissos, obrigações trabalhistas, inps, pis, fgts, e aquele catatau todo. funciona com cachês acertados por apresentação (raramente se remuneram ensaios), algumas vantagens pueris ou cooperativa – racha-se os lucros – que quase sempre são ínfimos. isso tem sido usado para desnivelar-se do teatro não empresarial (amador!) quer preconizando uma melhor qualidade de espetáculos, quer até para fins de encontro e discussão de interesses comuns (não é racine santos ?). tentativa, isto sim, amadora no pior sentido e de significado interessante: de antemão ser melhor do que os outros pela posse de capital. tsch, tsch! é preciso ver que posições radicais pendam para que lado forem não são elucidadivas e eficientes para resolução das questão. o teatro empresarial não é uma maldição. é preciso ver quem são os bruxos que o manipulam. seria ótimo que todos pudessemos nos manter do trabalho de teatro, que mal haveria? não fosse, como é, a manipulação de interesses. o teatro é um meio que pode estar a serviço de a ou b. acaso o oficina e o arena grupos dos quais ninguém discute suas posições políticas, não tiveram envolvimentos “graves” com o sistema empresarial? pode-se renegar o seu trabalho? é impossível a fuga radical de contatos com os elementos do sistema.e isso, é comporovável no dia a dia, não precisa leituras marcusianas. agora que, sob a chancela de utilizar o sistema, muitos tem sido utilizados, isso lá tem. aí reside um perigo para as federações e boa oportunidade para ver a habilidade política e administrativa da diretoria da federação – presidente, secretário, tesoureiro e conselho fiscal, esta é a formulação standard – (também da confenata).
a organização de um orgão de classe da classe teatral é bastante interessante sob diversos pontos de vista. inclusive político e sociológico. “ agrupando um nebulosa social, uma vez que os artistas e intelectuais não se constituem classe social, pois vivem a reboque dos extratos de classe média e imediatamente superiores, constituindo-se camada intermediária, jamais podendo ser ou foram classe particular, uma vez que não tem posição independente do sistema de produção. eis a raiz da sua contradição, a raiz econômica: pertencem a uma camada social intermediária de contornos e estrutura interna movediços, partilhando a sorte ambígua, contraditória e flutuante das classes médias. por isso mesmo tão marcados aqui e acolá por vicissitudes, ao realizarem um trabalho improdutivo, assalariado, mas não integrado ao modo de produção: constrangidos a elaborar e difundir uma ideologia destinada a perpetuar a exploração de que ele próprio é vítima – tal é o fundamento real, objetivo da consciência contraditória que o intelectual e os artistas formam de sua situação – burguês por sua função ideológica - é pequeno-burguês pela sua posição social e trabalhador assalariado pela sua situação ecônomica.” (kanapa , situation, pág 29).
como vimos e sentimos em nossas próprias peles não é fácil a situação da classe e de sua estruturação em tal movimento, tornando-se necessário alertar que, a não participação na confenata não implica na formação de um movimento estadual ou municipal, destinado a esclarecer e amparar uma minoria rumo a uma ação para si e a comunidade, despertando o “ homu politicus” adormecido no homem brasileiro. isso porque não é obrigatória e não será conseguida, uma representatividade dos anseios e interesses comuns quanto aos grupos atuantes do estado. e torna-se claro que alguns ficarão de for a por uma “seleção natural” quanto a ideologia orientadora de suas posições, cujo meio mais acurado para detectar tendências e coerências são seus próprios trabalhos. não é de modo algum impraticável uma federação que abrigue grupos não empresariais e empresariais. há federações que assim se constituem. isso dependerá, repetimos, dos critérios de quem manipula o meio. cabe ao movimento, mercado, suporte financeiro, de cada estado, implantar ou não uma profissionalização: sadia ou não. o fato do movimento empresarial existir , ou vir a existir, não determina a extinção do movimento não-empresarial, pelo contrário. caberá então a federação dar uma assistência precípua ao movimento não empresarial, cuidando para que os tratamentos de orgãos oficiais, e direta ou indiretamente ligados ao teatro não seja o mesmo dispensado ao movimento empresarial, por uma questão lógica. creio ser uma abertura sensata e democrática, e que evita o radicalismo de ambas as partes. pois não vai ser a separação simplesmente que determinará transformações. isso é miopía analítica e impotência política acentuada. as variáveis a serem trabalhadas são bem outras, principalmente na esfera de um sistema cultural. há grupos empresariais que são bem efetivos para isso.
assim sendo pode uma federação traçar programas de trabalho que atinjam todo o estado, contribuindo para a fomentação e aperfeiçoamento da técnica teatral, ideologicamente e tecnicamente. isso se existir um substrato cultural para tanto, que determinará maior ou menor grau de avanço, além do desejo espontâneo dos grupos de assim fazê-los, pois torna-se perigoso usar enzimas com organismos ainda não preparados. cursos, publicações, ciclo de leituras dirigidas, seminários, mostras elucidativas de teatro (com participação da platéia) são algumas das promoções mais usuais a cargo das federações. além de exame dos critérios para utilização dos teatros (grupos locais e visitantes), levantamento de locais de ensaios, campanhas junto a imprensa para a fomentação do gosto pelo teatro, questionamento da própria imprensa e sua atuação em assuntos de teatro e culturais, exame e revalidação dos programas de educação e cultura em teatro ao nível municipal, estadual e federal, criação de casas de espetáculos, publicações, intercâmbios, assistências médico-odontológica e uma série de serviços e atuações pertinentes a um orgão de classe atuante a depender de sua administração e seus filiados.
obviamente existe ainda uma série de tópicos – inclusive os de ordem legal para funcionamento da federação: estatutos, registro em cartório, registro do cgc e etc - e complexidades que devem ser considerados. mas isso parece-me tarefa dos de casa. minhas observações creio são válidas para a instauração de um processo de discussão, uma vez oriundas de quem sem envolvimento ou ranso nos litígios locais.e a experiência de uma federação que até então foi uma das mais difícéis de se instaurar plenamente. não deve-se criar uma federação por criar ou porque os demais estados estão na dança, acho. se constata-se a inviabilidade para tal criação, é bem melhor assumir esta falta de maturidade, ou outros motivos quaisquer, do que criar uma federação inoperante e arraigada de incertezas e ransos de origem pessoal. para isso nada melhor do que reunir todo mundo de casa que está ativamente envolvido e partir-se para uma debate franco o mais que possível e esclarecer-se as posições, respondendo pela responsabilidade de ser gente de teatro.
faria a última observação, lembrando a gramsci em sua dialética: “criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente, descobertas”originais”; significa, também e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, “socializá-las”, transformá-las, portanto em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. o fato de que o povo seja conduzido a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato “filosófico” bem mais importante do que a descoberta, por parte de um “ gênio filosófico”, de uma nova verdade que permaneça patrimônio de pequenos grupos intelectuais”. por falar nisso, a classe teatral do rio grande do norte já repensou um possível ato de jesiel figueiredo contra determinado grupo baiano que foi impedido de apresentar seu espetáculo (uma revista) aí ?
é meus filhos, política não se aprende na escola. “ o pensamento é um ensaio teatral”.
*celso muniz, 23 anos, pernambucano de recife. juntamente com tonico aguiar responsável pelo teatro piolim. jornalista, crítico, diretor e ator, com incursões em verso e música. além de bacharel em jornalismo, foi aluno do curso de música da escola de belas artes da universidade federal de pe., e fez estudos sobre ideologia nos meios de comunicação e sociologia da arte(teatro) no curso de mestrado do pimes da ufpe. ex-tesoureiro e atual presidente da federação de teatro de pernambuco(feteape).
(1) federações e representações que compôem atualmente a confenata:
fetema(federação de teatro do estado do maranhão)
fetierj(federação de teatro independente do est.do rio de janeiro)
festa(federação estadual de teatro do ceará)
fetemig(federação de teatro do est. de minas gerais)
fpta(federção paraibana de teatro amador)
fetadif( federação de teatro amador do distrito federal – brasilia)
feitag(federação independente de teatro amador do estado de goiás)
fetapa(federação de teatro amador do pará)
fetesc(federação de teatro do estado de santa catarina)
fetapi(federação de teatro amador do piauí)
fitap(federação independente de teatro amador do paraná)
fbta(federação bahiana de teatro amador)
publicado textualmente em a república(natal) no domingo 12 de março de 1978.
passado todo este tempo, não há como não dar algumas risadas com as siglas das federações a começar da fetapa, principalmente em se tratando de gente de teatro. outras, como a feteape, muito próximas da fetape, federação dos trabalhadores em agricultura do estado de pernambuco.
por outro lado, o uso da palavra radical repetida algumas vezes, no contexto de não sê-lo, como sinônimo de chamamento ao entendimento, é coisa que nunca mais fiz. até então(1978) nas minhas leituras não havia chegado a parte em que marx(fora de moda?) diz que ser radical é tomar as coisas pela raiz. portanto se quer resolver um problema não fique pelas folhas e frutos, tampouco pelas sementes. parta logo para a raiz do problema, quer dizer o radical, sendo-o ou não na acepção popular, que foi incutida pelos dominadores que nos fizeram “admirável gado novo” até hoje. mas cuidado: com certeza vão chamá-lo de radical. sabe como é, com aquele ar de ombros de que você é que é o causador de problemas. e não o solucionador ou pelo menos aquele que tenta.
contemporizar, radicalizo? é não solucionar. o que é deveras interessante para quem alimenta o problema. não? agora é você que está sendo” radical”.
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